A inflação voltou a ficar acima da meta no país em 2024, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (10). Em 2024, o aumento geral fechou em 4,83%. O índice de dezembro fechou em 0,52%.
A meta era de 3% e seria considerada formalmente cumprida se ficasse em um intervalo entre 1,5% e 4,5%.
Mas você já deve ter se perguntado por que o índice de aumento costuma ser diferente do observado semanalmente nas gôndolas dos supermercados, no comércio, ao comprar um remédio, ao abastecer o carro, enfim, nas contas mensais da família.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é uma média ponderada que leva em conta uma série de produtos e serviços, tentando representar a população brasileira, que tem hábitos de consumo diferentes. Portanto, não espelha exatamente o gasto de cada residência, conforme explica André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre):
— A inflação divulgada pelos institutos de pesquisa, pela Fipe, pelo IBGE e pela FGV é uma estatística que representa uma parcela da sociedade. Então, é muito difícil que uma estatística que está falando de uma inflação média que abraça um conjunto muito variado de famílias possa se encaixar perfeitamente na vida de cada um. A inflação percebida por cada família vai depender de sua configuração.
Como o IPCA é calculado?
O índice busca medir a variação de preços de uma sequência de produtos de um mês para o outro e do acumulado de períodos. Alimentos, como arroz, feijão e carnes, e serviços e produtos, como internet, conta de luz, móveis e roupas, estão entre os itens analisados pelos institutos de pesquisa. A partir da soma desses valores, é calculada a variação entre os dois períodos.
Para calcular o IPCA, o IBGE coleta preços em 10 regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), além de Brasília e outras cinco capitais (Rio Branco, São Luís, Aracaju, Campo Grande e Goiânia). São verificados 430 mil preços em 30 mil locais.
Olhando o dado em cada região de forma isolada, os preços variam de maneiras diferentes, porque cada população tem costumes e hábitos de consumo distintos.
Segmentos analisados
- Alimentação e bebidas
- Habitação
- Artigos de residência
- Vestuário
- Transportes
- Saúde e cuidados pessoais
- Despesas pessoais
- Educação
- Comunicação
Por que a inflação verificada pelas famílias é diferente da média geral?
O percentual apresentado pelo IPCA é uma média geral, pegando itens com redução ou salto nos preços no período de pesquisa. Portanto, a alta nos preços vai ser diferente de acordo com o perfil de gastos, a renda e a região de cada família. Alguns grupos familiares apresentam uma cesta de produtos diferente da média da população.
Além disso, alguns grupos, como alimentos, tem mais peso no indicador do que itens que não são de primeira necessidade. Por exemplo, um aumento de 2% no preço da carne vai impactar mais uma parcela maior da população do que elevação de 20% nas passagens aéreas.
Portanto, uma família que não consome carne vermelha e não tem filhos na escola vai ter uma inflação diferente da oficial, que leva em conta com maior peso o preço da carne e da mensalidade escolar.
— Uma família com idosos vai perceber uma inflação mais alta quando o seguro saúde sobe, quando os medicamentos ficam mais caros, quando os alimentos in natura sobem, quando o leite aumenta. Uma família com crianças em idade escolar percebe uma inflação mais forte quando a mensalidade escolar sofre reajuste ou quando mesmo o material escolar fica mais caro — explica André Braz.
Poder de compra
Se a variação do seu salário de um ano para o outro é menor do que o IPCA, significa que você perdeu seu poder de compra. No caminho inverso, seu poder de compra aumentará. Se os dois percentuais são iguais, você manteve.
O que puxou o IPCA para cima ao longo de 2024
Café: 39,6%
Cigarro: 23,94%
Contrafilé: 20,06%
Leite: 18,83%
Etanol:17,58%
Gasolina: 9,71%
Mensalidades do Ensino Fundamental: 8,86%
Serviços bancários: 8,03%
Planos de saúde: 7,87%
Lanches: 7,56%