O Rio Grande do Sul fechou 2024 com avanço na criação de empresas. Puxado por um salto mais expressivo na constituição de negócios de sociedade limitada, a abertura de estabelecimentos cresceu 9,38% no último ano ante 2023. Os dados são da Junta Comercial, Industrial e Serviços do RS (JucisRS). Simplificação de processos, incentivos e retomada após enchente com velocidade acima do esperado são alguns dos fatores que ajudam a explicar o movimento, segundo especialistas.
Em 2024, o Rio Grande do Sul registrou a constituição de 253.669 empresas. São 21.745 companhias a mais do que o observado em 2023, quando o Estado fechou o ano com a abertura de 231.924 CNPJs. Além do salto, o dado de 2024 é o maior na série histórica da JucisRS, que agrega dados desde 2003. O número também considera transferências de sede e transformações, mas a maior parte é composta por novas empresas.
A presidente da JucisRS, Lauren Momback Mazzardo, afirma que o avanço na criação de companhias responde a uma série de fatores que deixaram o ambiente de negócios mais favorável no Estado. Maior incentivo ao empreendedorismo e facilitação de processos burocráticos entram nesse rol, segundo a dirigente. Lauren também destaca as ações do governo estadual no combate aos danos causados pela inundação nesse processo, com incentivo a novos negócios.
— A digitalização, a simplificação e a desburocratização do processo de registro de empresas têm desempenhado um papel fundamental para esse crescimento. Outros fatores importantes são as ações do Plano Rio Grande, que propôs medidas efetivas para atenuar os impactos causados pelas enchentes em três eixos de atuação: emergencial, reconstrução e o Rio Grande do futuro, que trouxeram esse fortalecimento da economia gaúcha.
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que a criação de empresas está sempre ligada ao ciclo econômico. Uma conjuntura nacional favorável e questões específicas do Estado, como injeção de recursos públicos na retomada pós-inundação e preservação de boa parte da safra antes dos eventos climáticos de maio, ajudaram a fortalecer a economia, que deve fechar o ano acima do esperado.
— A gente teve aí um conjunto significativo de recursos que evitaram uma baixa mais significativa da nossa economia. Esses elementos atuaram para que, ao longo do ano de 2024, a taxa de crescimento do PIB ultrapasse o patamar de 4%, algo bem expressivo.
Pelo lado dos fechamentos, a extinção de empresas subiu de 130.678, em 2023, para 146.829, em 2024 — crescimento de 12,35%. Mesmo assim, o total segue menor do que o número de aberturas, o que mantém saldo positivo na criação de empresas. A presidente da JucisRS atribui o aumento no número de fechamentos ao impacto da enchente, que afetou diretamente companhias, com danos materiais e prejuízos financeiros significativos.
LTDAs apresentam maior alta percentual
Separando os dados dos tipos de empresas com maior representatividade no total de aberturas, as empresas de sociedade limitada, conhecidas como LTDA, tiveram o maior salto proporcional. Em 2024, foram constituídas 46.829 LTDAs no Estado — alta de 11,33% ante 2023.
A presidente da Junta afirma que a agilidade para abrir esse tipo de negócio hoje em dia cria um cenário mais atrativo para empreendedores optarem por esse modelo.
— O aumento na abertura das Sociedades Limitadas pode ser explicado pela simplicidade, pela segurança jurídica que esse tipo de estrutura oferece aos empreendedores e também pela possibilidade de serem constituídas por um ou mais sócios. Além disso, hoje é muito rápido e simples abrir uma LTDA no RS, podendo ser constituída em minutos no portal de serviços da Junta Comercial, Industrial e de Serviços, ou através do WhatsApp.
Lauren afirma que, mesmo com peso menor, a migração de MEIs que cresceram em termos de faturamento para o modelo de LTDA também pode entrar nesse movimento de alta nas limitadas. O ambiente mais ágil facilita esse processo, segundo a presidente.
Nos últimos anos, o fim do regime de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli) também é outro fator que vem impulsionando a opção pelo regime de LTDAs.
Olhando apenas números absolutos, as MEIs seguem com o maior número de negócios criados, com 201.156 em 2024 — crescimento de 9,58%. O economista-chefe da CDL Porto Alegre afirma que o avanço dos MEIs pode estar ligado também ao fato de pessoas buscarem essa alternativa na tentativa de recuperação após a inundação.
— Vejo que é muito ainda por conta do empreendedorismo por necessidade, sobretudo por conta dessas cicatrizes que acabaram ficando da enchente — analisa Frank.
Serviços lideram entre os setores
Das 253.669 empresas abertas em 2024, 180.889 (71,31%) estão no setor de serviços. Na sequência, aparecem comércio e indústria (veja no gráfico acima). Frank avalia que esse avanço em serviços ocorre diante de mudanças comportamentais que vêm desde a pandemia de covid-19 e seguiram.
— As pessoas demandaram muito mais serviços e tiveram também essa mudança de padrões de hábito de consumo. Tudo isso avançou para gerar um quadro um pouco melhor dos serviços. Então, vejo que é consistente com o que a gente vem observando nesses últimos anos, é um quadro que data de um período um pouco mais atrás e segue se consolidando ao longo do tempo.