Após afundar com a combinação entre pandemia e estiagem, o Produto Interno Bruto (PIB) voltou a crescer no Rio Grande do Sul. No terceiro trimestre deste ano, teve alta de 12,9% em relação aos três meses imediatamente anteriores. O avanço traz alívio para os negócios, mas ainda não recupera todas as perdas recentes da economia gaúcha.
O resultado foi divulgado nesta sexta-feira (11) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão. Popularmente, o PIB é conhecido como a soma dos serviços e bens produzidos. Na prática, serve como termômetro da atividade econômica.
Conforme o DEE, a alta de 12,9% é a maior da série histórica, iniciada em 2002. Contudo, está relacionada à base fraca de comparação. É que, no segundo trimestre, o PIB havia amargado queda histórica de 13,7%, em razão da paralisação de empresas e da seca nas lavouras.
Pesquisador do DEE, Martinho Lazzari frisou que o avanço de julho a setembro marca o início de uma retomada, mas ponderou que a reação, até aqui, é "incompleta". Ante igual período do ano passado, a economia seguiu no vermelho. A baixa frente ao terceiro trimestre de 2019 foi de 4,1%.
No acumulado de 2020, até setembro, houve queda maior, de 8,6%. Em 12 meses, o recuo chegou a 6,6%. Com o desempenho, o volume do PIB gaúcho encontra-se em nível semelhante ao do final de 2016, quando o Brasil estava mergulhado em recessão — ou seja, retração da atividade econômica.
— Isso evidencia que ainda existe um longo caminho para uma recuperação mais robusta — pontuou Lazzari, durante a apresentação dos dados.
Na comparação com o segundo trimestre de 2020, os três grande setores pesquisados tiveram desempenho positivo. A agropecuária colheu a maior alta: 39,8%. O avanço ocorreu após tombo de 25,1% entre abril e junho. A melhora está mais ligada à pecuária, já que o maior peso da agricultura ocorre no segundo trimestre, castigado pela estiagem em 2020.
A indústria veio na sequência, com avanço de 19,7%. Dentro das fábricas, o destaque no período foi o segmento de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana, que cresceu 44,1%. Em seguida, aparecem indústria de transformação (20%) e construção (4,3%).
Nos serviços, terceiro grande setor pesquisado, o aumento foi de 4,2%. Houve expansão em seis das sete atividades que compõem o segmento. O destaque foi o comércio (6,9%), beneficiado pela reabertura de lojas. O ramo batizado como outros serviços (6,4%) ficou logo atrás. Esse grupo contempla, por exemplo, atividades de turismo e gastronomia, atingidas em cheio pelo coronavírus.
— No terceiro trimestre, houve forte avanço no PIB porque a base de comparação estava deprimida. Era natural ter uma recomposição de parte das perdas. O segundo ponto é que, assim como no restante do país, existe uma heterogeneidade (diferença) nos setores. Basta ver que a indústria performou melhor do que os serviços — observa o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank.
Entre julho e setembro, o PIB brasileiro cresceu 7,7%. Ou seja, a economia gaúcha teve elevação superior no período (12,9%). Na visão do professor Gustavo Inácio de Moraes, da PUCRS, o resultado sinaliza o começo de uma reação depois de a atividade bater no "fundo do poço".
— A alta no terceiro trimestre era esperada. De certo modo, o que surpreendeu foi a intensidade, acima da registrada no Brasil. Apesar disso, ainda não recuperamos o nível de 2019 — pondera o economista.
Na comparação entre os setores, a agropecuária e a indústria cresceram mais no Estado do que no Brasil no terceiro trimestre. A exceção foi o segmento de serviços, que avançou mais no país (6,3%).
Cenário para os próximos meses
O PIB gaúcho deve confirmar novo avanço no quarto trimestre, mas em nível inferior ao registrado entre julho e setembro, dizem analistas. A previsão está ancorada em fatores como a permanência de medidas de estímulo à economia, incluindo o auxílio emergencial. O 13º salário representa outro incentivo aos negócios.
Para 2021, existem dúvidas quanto ao fôlego da retomada. É provável que, a partir de janeiro, o auxílio emergencial deixe de existir, em razão das dificuldades fiscais do governo federal.
Além disso, os gaúchos terão de ficar de olho na previsão do tempo, já que a agropecuária tem peso maior na economia do Estado do que na do restante do país. Novo período de escassez de chuvas ameaçaria a reação no campo.
— No quarto trimestre, o PIB deve seguir a toada de recuperação, mas com taxa de expansão menor do que 12,9%. Para 2021, temos muitas incertezas — indica o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank.
Mesmo com a expectativa pela chegada de vacina contra a covid-19, ainda não há clareza sobre o possível processo de imunização ao longo do próximo ano. De certa forma, essas interrogações também dificultam as projeções para 2021.
Professor da PUCRS, o economista Gustavo Inácio de Moraes ressalta que a recuperação depende, em parte, de melhora mais consistente no setor de serviços, que tem maior peso no PIB. Dentro desse segmento, há atividades que sofrem mais com o distanciamento social, como eventos, gastronomia e turismo. O avanço do setor, aliás, é importante para retomada no mercado trabalho, bastante prejudicado pela covid-19, destaca o professor.
— Em 2021, há uma perspectiva de melhora, mas que ainda depende, de forma crucial, do desempenho de serviços — diz.