
Em busca de um local no Brasil para viver e empreender, o norte-americano Michael Scott Carter encontrou em Monte Belo do Sul a propriedade ideal para estabelecer-se com os filhos e pôr em prática o plano de uma vinícola.
Há um ano e meio, fixou residência na região e trabalha na conversão dos vinhedos e na instalação da vinícola propriamente dita, prevista ainda para este ano. Enquanto isso, elabora vinhos em uma indústria parceira em Farroupilha.
A primeira safra de quatro vinhos já está no mercado: branco, tinto, rosé e reserva. O lançamento foi em 19 de novembro do ano passado, véspera do Dia da Consciência Negra, em São Paulo. A escolha pela data não foi à toa. Desde que passou a morar no país, ouviu de muitas pessoas que é o primeiro negro a produzir vinhos no Brasil.
Os rótulos, inclusive, evidenciam as origens do empresário. Os nomes dos vinhos são inspirados na diáspora africana e levam a palavra Ilé, que significa casa em Iorubá e presta, conforme Carter, uma homenagem ao terroir.
— Este é um país que aceita as ideias diferentes e os bons produtos. Mais do que qualquer outra coisa, queremos deixar as pessoas fazerem parte da história de crescimento e criação e inspirar as pessoas a serem capazes de começar seus próprios negócios — acrescenta.
Além de levantar a bandeira da diversidade e fomentar o empreendedorismo, a vinícola trabalha a questão da sustentabilidade. A Michael Scott Carter utiliza garrafas de vidro recicláveis, rolhas naturais e rótulos em papel e caixas de papelão (esses dois últimos com certificação FSC, um selo que comprova uso de materiais de florestas bem manejadas e/ou fontes recicladas).
O empreendimento, que leva o nome de Carter, fica na Linha Pederneiras, interior de Monte Belo. O americano trabalha no desenvolvimento da equipe comercial e das redes de distribuição, e planeja receber, no futuro, turistas.
Global
Como diferencial, Carter usa blends em cada rótulo em vez de uma única variedade de uva para não condicionar a apreciação do vinho a um pré-conhecimento de características. O empresário quer evitar comparações entre estilos de vinhos. A uva, dependendo do local onde é plantada, tem um perfil completamente diferente e resulta em um vinho distinto.
— Em busca de valorizar o que temos de mais propício no nosso solo, na nossa região, e também pensando na mudança climática, optei por trabalhar com cortes que evidenciam não a uva em si, para que a pessoa não pegue aquela garrafa e diga: "Ah, isso é um merlot, então o merlot vai ser assim" — destaca.
Além disso, Carter busca um perfil de bebida que possa ser compreendido não apenas no Brasil, mas em outros países. Segundo ele, o lançamento em Londres, em fevereiro, mostrou que estava certo, já que os vinhos tiveram boa aceitação e boas vendas. Em breve, os rótulos da marca serão comercializados na Inglaterra, mostrando a competitividade do produto.
De Chicago
Carter é economista e natural de Chicago, onde, aliás, teve um restaurante. Ele tem dois filhos "meio brasileiros": nascidos nos Estados Unidos com mãe brasileira.