
Criada há quatro anos para dar experiência empreendedora aos alunos da Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a empresa júnior Catalisa tem aprendido neste ano lições essenciais para a sobrevivência de um negócio. A crise econômica trazida pela pandemia do coronavírus forçou os estudantes a reinventarem seu produto, recalcularem metas de receita e descobrirem outros perfis de clientes.
— Fizemos uma reestruturação interna para nos mantermos produtivos, implementamos novos softwares para possibilitar o trabalho em home office e mudamos o escopo dos nossos serviços, que eram muito amparados em visitas a clientes — explica Guilherme Bueno Bridi, diretor da Catalisa.
Com uma nova forma de trabalhar, em que licenças ambientais, projetos de ampliação e de destinação de resíduos são providenciados remotamente, a empresa teve uma grata surpresa: passou a ser procurada por clientes de outros Estados, já que a distância deixou de ser um problema. A meta de faturamento para este ano, que chegou a ser reduzida de R$ 129 mil para R$ 100 mil logo no início da pandemia, já foi novamente revista, e para cima. Até agora, a receita chega a R$ 125 mil.
— Essa remodelação tem nos dado condições para continuar qualificando nossos membros, já que todo lucro é reinvestido em capacitação, e ajudar nossos clientes a cortar custos — celebra Bridi.
A Catalisa é uma das 34 empresas juniores (EJs) instaladas em Porto Alegre, que reúnem mais de 600 estudantes e faturam, juntas, mais de R$ 1 milhão ao ano. Todas elas estão instaladas em universidades – além da UFRGS, há unidades na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e na Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS).
Além da Capital, há núcleos de empresas juniores em Santa Maria e em Rio Grande, totalizando 150 EJs no Estado. Conforme a Brasil Junior, confederação que reúne essas iniciativas nacionalmente, há mais de 900 organizações desse tipo no país, sem fins-lucrativos, mas que atuam como companhias maduras. Têm hierarquia administrativa, recrutam colaboradores, desenvolvem produtos, investem em inovação e disputam espaço no mercado com concorrentes formais.
Para se desenvolver, recebem apoio dos professores universitários e de grandes empresas, que oferecem consultoria e treinamento. A união entre elas é importante porque possibilita a troca de experiências e o nivelamento do aprendizado. Nesta quarta-feira (21), foi realizado um painel virtual com três executivos de grandes empresas para falar sobre a importância da diversidade no mercado de trabalho.
— Este ano tem sido de transformação para as Ejs, para algumas de forma mais dura, para outras mais natural — explica Luísa Weizenmann Kornowski, estudante de Engenharia Ambiental UFRGS e assessora institucional no núcleo de Porto Alegre.
As empresas juniores de todos setores, de marketing a saúde, têm descoberto novos modos de atuar. Deixaram os campi para adotar o teletrabalho e tiveram de se readequar ao calendário universitário, já que a dedicação dos estudantes está diretamente condicionada à sua carga de tarefas letivas. Além disso, precisaram implementar softwares e sistemas de informação em nuvem para as quais a maioria não estava preparada.
— O fato de serem empresas sem fins lucrativos ajuda a atravessar a crise, já que não há custo fixo com funcionários e todo valor arrecadado pode ser investido em inovação e treinamento — pondera Luísa.
Para a Empresa Jr. ESPM, que reúne 20 estudantes de diferentes cursos da faculdade, a primeira aprendizagem trazida pela pandemia foi fazer todo seu processo seletivo de forma remota. A quarentena atrapalhou o tradicional recrutamento semestral e levou os empreendedores a buscarem na tecnologia a solução.
— Estávamos nos preparando para completar a equipe e, quando percebemos, veio a pandemia e se tornou impossível fazer a seleção presencial. Reconstruímos nosso processo de trainee e conseguimos fazer uma seleção nova em pouquíssimo tempo, preenchendo todas vagas — explica Pietra Davis, diretora de marketing da organização. — Foi uma lição fundamental: as empresas precisam estar sempre prontas para a transformação.