
Assim como definiu pausa de 90 dias nas tarifas punitivas depois de sinais de travamento nas negociações dos títulos da dívida americana, Donald Trump agora sinaliza dois recuos marcantes: na guerra comercial contra a China e em sua ofensiva para tentar derrubar o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
Foi depois que se consolidaram sinais de que o dólar perdia valor, não só ante moedas fortes, também em relação a de países emergentes como o Brasil. Antes que acabasse a terça-feira em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu o crescimento global de 3,3% para 2,8% e dos EUA de 2,7% para 1,9%, Trump engatou a marcha à ré:
— Não tenho intenção de demiti-lo — respondeu ao ser perguntado sobre Jerome Powell, presidente do Fed.
E com palavras muito mais delicadas, acrescentou:
— Gostaria de vê-lo um pouco mais ativo (na redução do juro). Se ele não o fizer, é o fim? Não.
Na quinta-feira passada, Trump havia publicado em sua própria rede social, a Truth, uma frase grosseira e a imposição a Powell do apelido "atrasado" (too late, em inglês):
— A demissão de Powell não pode chegar rápido o suficiente!
Sobre o nível das tarifas impostas à China, afirmou que os atuais 145% representam um patamar “muito elevado”, que “vai cair substancialmente”.
— Não ficará nem perto desse número, mas também não será zero.
Vale lembrar que isso ocorre depois da enésima declaração de que a China precisava negociar ter sido solenemente ignorada por Pequim.
Resposta do mercado
Os mercados, é claro, reagem bem, mas sem euforia. Os principais índices da bolsa de Nova York sobem entre 2,8% (DJIA, o mais tradicional) e 3,2% (S&P 500, o mais abrangente). A bolsa de tecnologia Nasdaq salta 3,9%.
É didático – especialmente para ele mesmo – por mostrar que Trump pode fazer os mercados despencarem, mas também é capaz de provocar reações positivas.
Especialmente no caso das tarifas contra a China, falta oficializar o aceno. Quanto a Powell, o problema é mais complexo: analistas avaliam que será usado como bode expiatório para as consequências da guerra comercial na economia americana.
O plano, quando a desaceleração com inflação se concretizar, seria culpar o Fed pelo efeito. Como a lógica não é a especialidade de seus seguidores, pode até funcionar.