Os golpes contra a CEEE ao longo dos anos tiveram uma variante na Regional Sul de Pelotas com indícios de fraude no conserto de veículos. O TCE apurou que a empresa foi lesada, em 2007, por serviços mecânicos não realizados, incompletos ou superfaturados. Auditores do tribunal apontaram prejuízo causado pelo dono da oficina Sul Máquinas, Luis Adalberto Cordeiro Martins, "com a conivência de servidor(es) da CEEE-D" - o parêntese que indica o envolvimento de um ou mais funcionários está na página 323 do relatório. Pela avaliação, o setor financeiro da companhia ordenou o pagamento, até setembro de 2007, de R$ 145 mil em favor da Sul Máquinas.
Amostra desse procedimento ocorreu entre 26 de junho e 6 de julho de 2007, no conserto de cinco picapes da CEEE, ao custo de R$ 12 mil. Para dar aparência de legalidade, foram apresentados orçamentos da Sul Máquinas e de duas concessionárias de marcas estrangeiras, ambas de Pelotas. No entanto, os documentos das supostas concorrentes eram falsos.
Os auditores do TCE ouviram os representantes das duas empresas e apuraram que eles foram vítimas de furto de carimbos e documentos, além da falsificação de assinaturas e apropriação dos nomes. O que disse o gerente de uma delas, cuja identidade é preservada:
"Não foi fornecido por nossa empresa nenhum orçamento para reparo de veículos da Chevrolet S-10 de uso da CEEE".
O proprietário da outra empresa também ficou surpreso. Informou que atua apenas com a revenda de peças e acessórios, sem prestar mão de obra a clientes. O que ele declarou aos auditores:
"Salientamos que não é do nosso conhecimento e não reconhecemos a autoria dos orçamentos que estão sendo utilizados em nosso nome".
S-10 que estaria na oficina rodava normalmente
A irregularidade foi esmiuçada. Ao examinar cadernetas com histórico dos cinco veículos a cargo da Sul Máquinas entre 26 de junho e 6 de julho de 2007, auditores notaram que a S-10 de placas IMF-0902 nem passou pela oficina. No período indicado, rodava pela região Sul do Estado, que abrange Santa Vitória do Palmar (a 240 quilômetros de Pelotas), transportando técnicos em serviço. O mesmo ocorreu com a picape IMF-2156, cujo reparo inexistente atingiu R$ 2,9 mil. A mecânica de Cordeiro Martins foi contratada sem licitação - ao arrepio do que determina a legislação federal quando a despesa ultrapassa R$ 16 mil. Os auditores estranharam por que a CEEE entregou a manutenção da frota da Regional Sul de Pelotas aos cuidados de uma oficina modesta.
Servidor não foi responsabilizado
Sindicância aberta pela CEEE, em janeiro de 2008, constatou que um dos funcionários da Regional Sul de Pelotas envolveu-se no "conserto" das picapes com a Sul Máquinas. No entanto, o servidor não foi punido. Aposentou-se ao saber que seria demitido por justa causa.
Diretores da CEEE na época não conseguiram responsabilizar o empregado suspeito de furto, nem trataram de recuperar os pagamentos indevidos à oficina. Durante a elaboração desta reportagem, ao tomar conhecimento do assunto, a atual direção informou que ingressará com ação judicial para tentar reaver o prejuízo indicado pelo TCE: R$ 12.357,17, mais juro e correções.
ZH foi a Pelotas conferir se houve desdobramentos do caso. O então gerente de uma das concessionárias envolvidas pela Sul Máquinas registrou queixa na Polícia Civil, em 14 de setembro de 2007, por apropriação indébita (furto de carimbo e de papéis com logotipia) e falsificação (assinatura forjada). Sob número 5.460, o boletim policial não teve andamento. No entanto, voltou a ser analisado agora pela 1ª Delegacia de Polícia Civil.
O proprietário da Sul Máquinas, Luis Adalberto Cordeiro Martins, negou ter cometido irregularidades. Ao contrário, sustentou que levou calote da CEEE, em torno de R$ 8,5 mil.
- Pensei em entrar na Justiça para recuperar o prejuízo, mas desisti - disse Martins, lembrando que a CEEE suspendeu pagamentos restantes quando houve troca na direção da companhia.