![Porthus Junior / Agencia RBS Porthus Junior / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/0/1/7/2/4/1/5_6588973d1bd6712/5142710_bcbe643a63b86d8.jpg?w=700)
Os mais recentes dados de inflação do país, divulgados nesta semana, mostram que os alimentos seguem exercendo pressão no orçamento das famílias. Itens importantes e tradicionais na mesa dos brasileiros acumulam alta acima da média e na casa de dois dígitos em um ano, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além de corroer a renda da população, o preço elevado dos alimentos também é uma pedra no sapato do governo federal, que enfrenta crise de popularidade. Mesmo com expectativa por diminuição em algumas dessas pressões, a estimativa de especialistas é por uma manutenção da alta no preço da alimentação nos próximos meses.
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que, no âmbito nacional, a estimativa de safra boa e dólar em queda abrem espaço para estabilidade nos preços dos alimentos. Contudo, isso não significa queda imediata nos preços, mas altas menos agressivas ao longo deste ano.
— Isso tudo melhora a nossa previsão para alimentação em 2025, com real valorizando e oferta mais forte. Só que as coisas não se resolvem da noite para o dia. Então, alimentação, de novo, vai ter um espaço grande na inflação de 2025, mas talvez menor do que aquele que a gente previa no início do ano.
No Rio Grande do Sul, a tendência é de que a pressão nos preços de alguns alimentos permaneça nos próximos meses, conforme o professor Leonardo Xavier da Silva, do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) e dos programas de pós-graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) e em Agronegócios (CEPAN) da UFRGS. A estiagem que castiga algumas regiões do Estado deve repercutir na safra de soja e também na pecuária, afetando os preços da carne e do leite.
— A estiagem tem efeito colateral, por exemplo, na produção e, consequentemente, no abastecimento de soja. Também tem um efeito colateral nos preços de produtos que, às vezes, a gente nem imagina que são afetados pela frustração da safra de grãos, como leite. Então, a estiagem deve afetar de forma negativa a pecuária leiteira e a própria pecuária de corte.
Produtos hortifrutigranjeiros também podem sofrer efeitos da falta de água, ficando mais caros nos supermercados, observa Silva.
![Neimar De Cesero / Agencia RBS Neimar De Cesero / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/9/8/6/2/4/1/5_7fbb9cfa5c7c7a7/5142689_33cae8bd65da57a.jpg?w=700)
A inflação em três fatores
No acumulado de 12 meses fechados em janeiro, o grupo de alimentação e bebidas apresenta alta de 7,25% no país — acima da inflação média, que está em 4,56% no período de um ano. O aumento é ainda maior em produtos como café e carnes. O cenário é parecido na região metropolitana de Porto Alegre.
Contudo, enquanto na Grande Porto Alegre as carnes têm grande peso, a média nacional observa maior impacto de frutas na inflação.
1. Efeitos climáticos
No ano passado, a produção agrícola brasileira foi afetada por diversos eventos climáticos, como seca histórica e queimadas em algumas regiões, principalmente no Centro-Oeste e no Sudeste. No Rio Grande do Sul, mesmo que a enchente não tenha atingido a maior parte da produção, problemas logísticos também embaraçaram a distribuição de certos itens no Estado.
O professor Leonardo Xavier da Silva afirma que os preços de hoje ainda carregam efeitos do ano passado, como dólar alto e quebras de safras.
— Fenômenos climáticos, como estiagem, acabam causando quebra de safra. Com isso, a gente tem problemas de oferta. Se a quantidade de alimentos está menor do que era esperado e temos um problema de câmbio, a consequência é o desabastecimento do mercado interno.
A economista Daniela Sandi, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), afirma que as mudanças climáticas observadas nos últimos anos têm peso importante no encarecimento dos alimentos.
— A alta dos alimentos é provocada por um conjunto de fatores estruturais e conjunturais, entre eles, a instabilidade climática causada pela destruição ambiental, que ameaça a produção no campo em todo planeta. O clima muito quente ou frio, longas estiagens, queimadas, chuvas volumosas, geadas têm causado estragos na agricultura e pecuária.
2. Câmbio em alta
O dólar apresentou forte valorização frente ao real ao longo de 2024, principalmente na reta final do ano. O professor Leonardo Xavier da Silva afirma que, além de reorientar os preços internacionais, a alta do dólar também afeta a oferta de alguns alimentos no país.
Em um cenário com problemas na safra e câmbio elevado, a quantidade de produto disponível diminui, afetando os preços, na avaliação do docente.
— A trajetória toda do dólar no ano passado foi de crescimento em relação ao real. Isso leva a uma tendência ou a uma preferência a exportar, o que gera um relativo desabastecimento no mercado interno.
![Marcos Santos / USP Imagens Marcos Santos / USP Imagens](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/1/2/7/7/8/0/5_974b7c004a069f6/5087721_810e0ea088defc6.jpg?w=700)
3. Demanda aquecida
O economista André Braz afirma que a alta nos preços dos alimentos carrega uma série de problemas observados há anos no país.
Desde 2020, os alimentos passaram por pressões como aumento na demanda diante do isolamento causado pela pandemia de Covid-19; crise hídrica, que afetou a produção agropecuária e o custo da energia; e guerra da Ucrânia, que estressou o comércio internacional.
Em 2024, o cenário ficou mais complexo, com dólar em alta, desafios climáticos e desemprego baixo, que aumenta a demanda por comida. Com menos oferta de produto e procura aquecida, os preços sobem.
— Nós tivemos em 2024 uma forte desvalorização cambial, que também encarece o preço dos alimentos. Registramos desemprego de 6%, que é um indicador de aquecimento de demanda. Com demanda mais alta, o preço fica mais alto — diz Braz.