
Feiras do campo não são as mesmas sem agricultura familiar, e na Expodireto, em Não-Me-Toque, o pavilhão que abriga as agroindústrias é um dos mais procurados pelo público. Do suco ao embutido, as delícias do Interior são protagonistas desde que passaram fazer parte da mostra, em 2008. De lá para cá, acompanham a evolução da própria feira, que celebra 25 edições este ano.
Uma das esquinas mais requisitadas do pavilhão, o estande da Produtos Coloniais Sobucki é também um dos mais antigos, instalado desde a primeira vez que a agricultura familiar esteve na feira. Sucos, compotas, caldas para drinks e geleias especiais estão no cardápio atual, muito diferente da estreia, que tinha apenas suco.
À frente da banca, Miguel Sobucki, 63 anos, tomava fôlego para falar com a reportagem enquanto atendia a clientela entre uma venda corrida e outra. Revivendo o passado, lembrou que a primeira participação precisou de investimento: uma máquina de suco comprada em quatro parcelas no cheque pré-datado. A aposta deu certo, já com o lançamento do suco de butiá, que se tornou febre nas feiras.
— Pegamos a fama e crescemos muito com o suco de butiá. Hoje o pessoal já conhece pelo rótulo e nos procura — comenta Sobucki, do município de Sete de Setembro.
— Mesmo a Expodireto não era nem metade do que é hoje — relembra.
Produtos novos
Todos os anos os produtores são desafiados a levar novidades para as feiras. E o pessoal gosta de inovar. A charcutaria Don Cutello, de Guaporé, expõe produtos diferenciados como a bochecha suína defumada, conhecida como guanciale. O corte é utilizado na culinária italiana, em pratos como a massa carbonara.
Em operação há quatro anos, a banca é uma das estreantes na Expodireto.
— Estamos bem contentes, principalmente pela valorização que o consumidor daqui dedica aos produtos. Dá para ver que o pessoal se interessa em saber. Vamos sair com vontade de vir numa próxima — diz Patrícia Cavasin, 36 anos, proprietária da agroindústria.
No corredor vizinho, o queijo com cachaça do Sítio Esperança Produtos Autorais, de Barão de Cotegipe, chega a formar fila por uma provinha. É o queijo Bendito, destaque da edição. Elaborada para ser diferente, a iguaria é premiada em concursos nacionais.
O sócio da marca, Laércio Lerin, 32 anos, conta que a esposa é quem gosta de criar os queijos. O da cachaça se junta a outros tipos, como o queijo com azeite de oliva e urucum na casca, o de vinho e outros coloniais tradicionais que compõe o cardápio.
— Levantamos a ideia, desenvolvemos o produto, fizemos ajustes e de repente foi um sucesso. Ganhamos o concurso de melhor queijo com medalha de ouro e minha esposa levou o segundo lugar no concurso de melhor queijeiro do Brasil — orgulha-se.
Oportunidade
Coordenador de feiras da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Jocimar Rabaioli diz que a participação dos produtores tem uma importância significativa para a agricultura familiar. A presença acompanha o desenvolvimento do trabalho e do pavilhão.
— Os expositores ganharam mais confiança sobre os seus produtos. É uma lapidação dos próprios negócios. Cada ano a feira nos supera positivamente — diz Rabaioli.
São 222 agroindústrias presentes este ano, 49 delas fazendo estreia. Os expositores representam 133 municípios do Rio Grande do Sul, com destaque para a participação de 138 mulheres e 33 jovens à frente dos empreendimentos. Em 2024, Pavilhão da Agricultura Familiar faturou R$ 3,13 milhões.
— Saímos de 30 expositores para 222. Há 17 anos, tínhamos que convencer os produtores a acreditarem na feira. Agora tem fila de espera. É um problema bom — completa o dirigente da Fetag-RS.