
Encontros ruins, expectativas desalinhadas, falta de compromisso e problemas de comunicação – essas são as reclamações de alguns solteiros, que encontram dificuldades em navegar pelos sentimentos e tendências da solteirice. Especialistas acreditam que pessoas estão mais seletivas e individualistas, o que pode complicar o cenário.
No TikTok, Instagram e X (antigo Twitter), usuários relatam as dificuldades de não estar em um relacionamento em 2025. Expressões como "quem casou, casou" são comumente utilizadas como alertas bem-humorados de que pode estar difícil de encontrar "bons partidos" e, por isso, quem já garantiu um compromisso deve aproveitar.
— Eu acho que está mais difícil ser solteira agora, em comparação a outros anos em que eu estive solteira. Porque hoje em dia eu, pelo menos, sou uma pessoa que busca conexões um pouco mais profundas. E as pessoas não estão muito a fim de profundidade — conta a empresária Betina*, 29 anos, de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
Festas, encontros e aplicativos
Solteira há pouco mais de dois anos, a jovem confessa que gostaria de estar vivendo um relacionamento, mas não está ativamente procurando por um. Não costuma ir a festas e faz tempo que não sai para encontros. Ainda, ela relata que deu um tempo dos aplicativos de namoro:
— Eu gostaria de estar nos aplicativos para conhecer pessoas e desenvolver conversas, mas isso não acontece. As pessoas não chamam. E quando chamam, não saem do "oi, tudo bem?". Não vai para frente.
Para a dentista Laura Berti, 26, de Porto Alegre, a dificuldade de comunicação é um dos problemas que tornam essa fase mais difícil. Após sair de um namoro de quase seis anos em outubro do ano passado, também acredita que a solteirice em 2025 está mais desafiadora do que da última vez em que esteve fora de um relacionamento.
— Às vezes, as pessoas conversavam muito bem virtualmente e aí, nos encontros, tinham zero habilidades sociais. Era uma coisa completamente diferente. Ou vou para festa, fico com alguém, e a pessoa não quer manter uma conversa. E tem o love bombing, de a pessoa conversar contigo e querer um monte de coisa e depois sumir. São coisas que eu não tinha vivido antes e estou vivendo agora — avalia.
Pessoas estão mais exigentes
Nos consultórios de psicólogos, essas e outras reclamações são comuns. A psicóloga clínica e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Mariana Boeckel e a psicóloga da família especialista em terapia de casal Márcia Izabel Pettenon afirmam que muitos pacientes falam sobre estar mais difícil de criar e manter relacionamentos.
Para elas, trata-se de um movimento individual: as pessoas estão questionando mais os compromissos. Mariana, que pesquisa sobre conjugalidade, casamento e questões de gênero, percebe que as pessoas têm avaliado se vale a pena abdicar de alguns aspectos de si mesmo para estar em uma relação a dois.
— Eu escuto, no meu consultório, homens reclamando de mulheres e mulheres reclamando de homens. Sobre como se relacionar está mais difícil. E talvez esteja mesmo. Porque, em alguma medida, se relacionar é abrir mão de algumas coisas. Antes eram mulheres abrindo mão, agora os dois precisam. Será que querem? — indaga a especialista.
Por conta disso, as especialistas acreditam que as pessoas estão mais seletivas. Para evitar a renúncia de si mesmo em vão, alguns solteiros buscam pares que preencham uma série de requisitos e com valores, metas e momentos de vida parecidos.
A dinâmica dos aplicativos de namoro, pontuada por Betina e Laura, também contribuem para o cenário atual. Márcia Izabel reforça que, durante a pandemia, foi uma ferramenta importante para construir relações enquanto as pessoas estavam em isolamento social:
— Mas o que eu percebo é que, após esse período, é uma superficialidade. Por relatos de pacientes que tentaram essa alternativa, são muitas pessoas buscando uma relação muito pontual, casual, dentro da sua individualidade. Quase que como um momento mais egoísta mesmo. Não, de fato, querendo encontrar alguém para ter um relacionamento, para nutrir essa relação.
Por outro lado, a especialista em terapia de casal pondera que algumas pessoas podem se sentir felizes e confortáveis com a fase da solteirice, mais focada em curtição. Não querer um compromisso ou conexões profundas não é errado, assegura Márcia Izabel.
Ela garante que ainda vê amostras de pacientes que querem um relacionamento e querem se esforçar para dar certo com alguém.
— Eu acredito que têm pessoas boas e que a gente não tem que se desesperar e achar que vai morrer solteira. Tenho muitos anos pela frente para achar alguém. O mundo tem oito bilhões de pessoas, eu posso ir viajar e conhecer outros lugares. Talvez não seja em Porto Alegre, mas acredito que vai ter alguém — brinca a (por enquanto) solteira Laura.
*A reportagem usou um nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.