Na última semana, fui conhecer o projeto novo do Sebrae-RS, a Tela — loja de varejo situada no Praia de Belas Shopping. No espaço contém 23 marcas gaúchas, que vão do vestuário a alimentos e bebidas.
Além de colocar em prática ensinamentos de varejo e de iluminação, a Tela aproxima o consumidor final de marcas locais. Foi assim que conheci o IA, vinho elaborado com inteligência artificial. A Casa Tertúlia, localizada em Três de Maio, no Alto Uruguai, é uma vinícola familiar, onde a mãe é enóloga, a filha sommelier, o pai administrador e o filho engenheiro mecânico. Uma vinícola com foco em vinhos de alto padrão, premiados e que une ciência, tecnologia e afeto.
Quem desenvolveu o algoritmo foi o filho Gabriel Hilgert. Ele explica que a ideia surgiu em 2016, a fim de melhorar a qualidade dos vinhos por meio de dados e facilitar e auxiliar o desenvolvimento de novos produtos, tudo isso com base na precisão científica. A ferramenta não substitui o enólogo, mas contribui com a otimização do processo.

Como funciona
A patente do IA, desenvolvida pela Casa Tertúlia, teve como primeira fase criar o algoritmo para pontuar os vinhos a partir de análise físico-química das bebidas. Os vinhos são elaborados pela vinificação tradicional e as uvas são produzidas normalmente.
Para analisar os vinhos são observados fatores como álcool, açúcar residual, acidez, pH, extrato seco, índice de polifenois, entre outros. A partir destas análises, foi desenvolvida uma base com informações dos vinhos da vinícola Casa Tertúlia, dados públicos e, também, de propriedade privada.
Depois, testou-se o algoritmo para validar se a nota que a ferramenta gera ao vinho estava condizente com a pontuação de uma competição. Então, a vinícola enviou amostras dos vinhos para concurso e, após, compararam as notas do algoritmo com as da competição.
O algoritmo pontua a partir dos dados físico-químicos, os concursos, com jurados especializados, avaliam o sensorial, os aromas, os gostos e os sabores. Já de início, o algoritmo operou bem, tendo um desvio padrão de 10% na fase teste.
Na segunda etapa, utilizou-se a ferramenta como forma de melhorar os vinhos da Casa Tertúlia e isso aconteceu com a criação de um corte, resultando em uma formulação ideal e em opções de mistura de vinhos baseadas em dados.
Segundo Gabriel, a IA fornece as melhores combinações a partir dos vinhos que tem na vinícola, e, posteriormente, a enóloga testa os cortes e avalia sensorialmente. O algoritmo reúne as informações, mas o veredito final segue sendo humano.

Enologia contemporânea
Conforme Gabriel, a IA não copia vinhos, mas mapeia as características que levam a determinadas qualidades no vinho. O algoritmo aprende como certas combinações vão ser expressas no equilíbrio da bebida.
A IA encontra, inclusive, novas combinações. Ou seja, auxilia na criação, dando o ponto de partida para a assemblagem dos rótulos. Ao invés do enólogo fazer testes às cegas, a IA sugere e otimiza o processo, o tornando eficiente por meio de base científica. Esta é a enologia contemporânea. Vai além do sensorial.
Assim surgiu o IA corte 1, receita número 10. Um vinho elaborado com as variedades Marselan, Merlot, Teroldego e Cabernet Sauvignon, cuja nota do algoritmo foi 90 pontos, sendo, também, validada pelo sensorial da enóloga Viviane Hilgert.
O primeiro vinho desenvolvido com uso de inteligência artificial é gaúcho e está pronto para ganhar várias medalhas de ouro em competição, pois, na minha avaliação sensorial, com uso de ficha técnica, o rótulo recebeu 92 pontos.
Conheça mais do trabalho da Casa Tertúlia aqui.