Às vezes tenho a impressão de que os trabalhos de David Lynch são tipo aquelas instalações de arte contemporânea que a gente olha e não sabe muito bem se é genial ou totalmente sem sentido. Talvez por isso esteja se falando tão pouco sobre a nova temporada da cultuada série Twin Peaks, depois de 26 anos de seu fim.
Muito se celebrou a volta do agente do FBI Dale Cooper, mas, passados 12 dos 18 episódios prometidos, até o fã mais efusivo não sabe muito bem o que dizer. Vai que daqui a pouco se defina esta narrativa como um novo cânone da TV? Então, antes de blasfemar contra o gênio, o melhor é o silêncio.
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O que muita gente esperava...
...era a nostalgia de ter de volta aqueles personagens icônicos naquela cidade que, de pacata, não tem nada. O mistério de quem matou Laura Palmer terminou há tempos, então o que havia sobrado era o charme daquele lugar entre florestas e daquela gente, no mínimo, peculiar.
Nesta temporada, pouco vemos disso. A história se deslocou para outras cidades, e os novos (e muito aleatórios) personagens – centro da trama atual – não são cativantes e não parecem ter muito a acrescentar. (Nem vou falar da decepção de conhecer a mítica assistente Diane.)
O pior: nem o protagonista está agradando. Alguém aí ainda não se cansou do agente Cooper abobado? (Eu, uns 10 episódios atrás, confesso.) Seja qual for o significado disso (o impacto de ter ficado fora do mundo como conhecemos por 25 anos, por exemplo), já deu. O custo de ter esse personagem crucial praticamente fora de combate é muito grande para a série – e doloroso para o espectador.
Ah, o episódio 8...
Sabe aquele episódio que, do início ao fim, deixou a gente de boca aberta e pensando: WTF? Há muitos críticos por aí dizendo que foi uma das horas mais artísticas e maravilhosas da história da TV. O surgimento do bem (Laura Palmer) e do mal (Bob) depois de um teste nuclear nos anos 1940, ou algo parecido. Eu ainda estou na defensiva. Se fosse obra de outro cara que não David Lynch, seria arte ou tosquice? É o que me pergunto.
O que muito me incomoda é saber que a mitologia de Bob surgiu de um erro, quando o designer de set Frank Silva (o Bob) apareceu sem querer no espelho em uma das tomadas. Ou seja, no início, a história que virou o fio condutor de Twin Peaks nem sequer existia! Há quem veja como sorte/criatividade/genialidade, e eu espero que estejam certos.
Eu ainda estou em cima do muro...
Falo tudo isso, mas ainda não sei o que pensar. Estou esperando que, logo logo, David Lynch e Mark Frost provem que todos os receios de fãs como eu eram infundados.
No fundo, porém, ainda acho que Lynch está se divertindo vendo toda essa gente tentando tirar sentido dessa maluquice. Isso sim seria muito lynchniano.