
Lançado na sexta-feira (25) pela Netflix, Caos e Destruição (Havoc, 2025) logo se tornou o filme mais visto na plataforma de streaming. A sinopse não pode ser mais sucinta e genérica — "Tom Hardy é um policial em uma missão de resgate violenta" —, mas também honesta.
O que não é honesto é o título brasileiro. O filme entrega apenas metade do prometido.
Sim, há muita destruição. Não apenas de propriedades, como carros e casas, mas também de corpos, cravejados de balas, cortados por facas, atravessados por arpões.
Mas não existe caos: o diretor Gareth Evans, o mesmo do já clássico Operação Invasão (2011), tem controle absoluto da selvageria. É o coreógrafo minucioso de um balé sangrento. Com a contribuição de sua equipe técnica, do elenco e dos dublês, consegue criar a ilusão de que toda a pancadaria e todos os tiroteios estão acontecendo de verdade.

A trama segue a cartilha do gênero, com direito a decisões estúpidas dos personagens e reviravoltas pouco convicentes. Tom Hardy encarna Walker, um policial corrupto de uma grande cidade qualquer dos Estados Unidos. Vive de consertar problemas para o prefeito, Lawrence Beaumont, papel de Forest Whitaker, ganhador do Oscar de melhor ator por O Último Rei da Escócia (2006). E tem uma ligação sombria com um grupo de tiras ainda mais sujos liderado por Vincent (Timothy Olyphant). Todas as pontas se unem quando o filho do político (Justin Cornwall) se envolve no assalto a um caminhão e na matança de integrantes de uma gangue chinesa.
Não espere de Caos e Destruição algum tipo de comentário sociopolítico — aqui, o negócio é pá-pum. Tampouco haverá atuações memoráveis, primeiro porque os personagens são clichês ambulantes, segundo porque o elenco não se esforça além da caricatura. Aliás, outrora um baita ator — vide Bronson (2008), Locke (2014) ou O Regresso (2025), que valeu indicação ao Oscar de coadjuvante —, Tom Hardy parece ter ligado o piloto automático já há um bom tempo.
Mas se o único (reforço: o único) desejo do espectador for assistir a cenas de ação violentas e barulhentas, Caos e Destruição merece o clique. Os 10 minutos da sequência na boate são realmente um espetáculo.
Gareth Evans, o diretor de fotografia Matt Flannery, os editores Matt Platts-Mills e Sara Jones e o designer de produção Tom Pearce apostam em planos-sequência com movimentações engenhosas da câmera — incluindo giros vertiginosos de 360º — que exploram os cenários e os objetos que estiverem à mão. Trata-se de um inusitado casamento de brutalidade e perfeccionismo _ que cobrou seu preço.
As filmagens de Caos e Destruição foram concluídas em outubro de 2021. Assim que o trabalho terminou, Evans percebeu que gostaria de refazer certas cenas. Mas sua vontade esbarrou na agenda apertada de Tom Hardy. Depois, em 2023, veio a greve do Sindicato dos Atores dos EUA, que durou 118 dias. Somente em julho de 2024 o diretor e o elenco conseguiram se reunir para refilmar algumas sequências. Na época, o ator Justin Cornwall chegou a comentar em um podcast que o lançamento estava previsto para janeiro de 2025, mas a pós-produção ainda demandou novos ajustes.
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