
Um ano depois de apresentar o Jornal Nacional do Rio Grande do Sul em meio à enchente, o jornalista William Bonner concedeu entrevista ao programa Timeline, da rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (30), relembrando o período. O âncora e editor-chefe do telejornal apontou a solidariedade e a união do povo gaúcho diante da catástrofe.
Sem o Aeroporto Salgado Filho, fechado por causa da inundação, Bonner chegou ao Estado em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB). O apresentador revelou que a vinda já estava sendo estudada, mas não aconteceu antes porque a expectativa da produção do programa era de que a situação melhorasse.
— O habitual nessas intempéries, nas chuvas muito intensas, é que elas provoquem danos num certo momento, mas que, com o passar dos dias, a água baixe e a situação melhore. A gente sempre trabalha com esta expectativa. O que aconteceu no Rio Grande do Sul contrariou totalmente essa expectativa e nós fomos nos dar conta disso no fim de semana, no domingo (5) principalmente — explicou.
Espírito de união
No dia 6 de maio, ele ancorou a primeira de uma série de edições do telejornal diretamente da Capital. Este momento marcou o jornalista:
— Nunca na minha carreira, eu tenho 40 anos de carreira, eu trabalhei em situação tão precária, porque a precariedade era absoluta, a cidade estava às escuras, a área em que haveria a ancoragem estava escura. Tinha um gerador que fornecia energia para iluminar o meu rosto, para o equipamento funcionar, mas não se via muito além disso.
Com programas apresentados em locais variados da cidade, como o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o abrigo instalado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o Viaduto da Conceição e um ponto de chegada de resgates na Orla do Guaíba, Bonner afirmou que a ideia era mostrar diferentes iniciativas de trabalho voluntário. Como principal memória, ele destacou a coletividade:
— Sem a menor sombra de dúvida, foi o espírito de união do povo gaúcho na adversidade. Isto é emocionante. É para a vida. Eu não vou esquecer nunca isso. Ninguém solta a mão de ninguém.
História emocionante
Questionado sobre qual foi o momento mais marcante da cobertura, Bonner disse que é difícil pensar em só um, mas destacou o encontro com Luis Carlos Almeida dos Santos, na PUCRS. O senhor estava no abrigo montado nas dependências da universidade depois de ter a casa tomada pela água. Quando descobriu que o JN seria apresentado do local, disse que precisava de um terno para conhecer o âncora.
Depois do programa, o jornalista encontrou Luis, que se desculpou por "não estar vestido como queria". O encontro foi registrado em vídeo e virou um quadro que Bonner guarda em sua sala e mostrou à Rádio Gaúcha.
— O seu Luis Carlos talvez não tenha ideia do bem que ele me fez aceitando o meu abraço — lembrou.
Ataques à imprensa
— O que eu li em diversos órgãos na internet sobre uma suposta hostilidade contra a equipe da Globo e contra mim foi tão inflado. Isso é tão mentiroso — afirmou Bonner.
Conforme o apresentador, ele viveu três momentos de hostilidade. O primeiro, em um programa apresentado de um viaduto, quando um cidadão se aproximou dele e decidiu expor a revolta contra Bonner e a emissora. Em outro momento, uma pessoa passou pelo jornalista de bicicleta em meio à tragédia e também resolveu xingá-lo. Nesta ocasião, o âncora ficou irritado e começou a responder às agressões, mas o diretor Miguel Athayde pediu que Bonner saísse dali.
Por fim, um terceiro acontecimento foi no elevador do hotel em que a equipe do JN estava hospedada. Bonner foi confrontado por outro hóspede, que não gostava da presença do jornalismo diante da catástrofe e acreditava que ele que estava ajudando.
Mesmo assim, o apresentador destaca que os momentos foram pontuais e significativamente menos frequentes do que manifestações no sentido contrário, quando a população foi gentil e agradeceu a presença do JN.