Na semana passada, através das redes sociais, ficamos todos pasmos ao saber que o pró-reitor de pós-graduação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Fernando Schlosser, havia pedido aos diretores do programa, "com urgência", informações sobre a "presença de discentes e/ou docentes israelenses" em suas unidades.
Como a notícia causou revolta por tresandar antissemitismo, logo o reitor da UFSM, Paulo Burmann, veio a público esclarecer que o pedido de Schlosser se devia a uma interpelação baseada na Lei de Acesso à Informação (LAI) e que foi protocolada por entidades sindicais de funcionários e de professores da UFSM, além do DCE e de um tal Comitê Santa-mariense de Solidariedade ao Povo Palestino, organismos que investigavam a presença de pessoas físicas e jurídicas israelenses dentro da universidade.
A fala do reitor no vídeo é a de um burocrata que segue alguma determinação kafkiana - em momento algum são revelados os motivos pelos quais as entidades querem a lista de israelenses, e Schlosser não parece nem um pouco preocupado com o assunto. Usa a LAI para justificar a desídia e desinteresse, como se a aplicação de uma lei dispensasse bom senso e cautela.
A julgar pelo tom do documento assinado pelos sindicatos, no qual o sectarismo e o rancor antissemita são suavizados por uma linguagem que faz-de-conta que é respeitosa, entende-se bastante bem que o objetivo de tudo não é exatamente pacífico.
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O fato já gerou uma queixa-crime e deve ter desdobramentos. Sabe-se que o pedido da relação de israelenses - e que já é chamada de Lista Schlosser-Burmann - tem a ver com um convênio que o governador Tarso Genro assinou em 2013 com a empresa de tecnologia Elbit Systems para implantar aqui um polo aeroespacial. Os pró-palestina não gostaram.
Estou convencida que nesse caso apenas temos mais do mesmo ódio ao diferente e discordante. Conheço bem o assunto: já fui ofendida por um professor de educação física por ser judia, já fui moralmente linchada por defender meus direitos, já fui tachada de racista por supostos defensores de minorias - os mesmos que estão agora bem caladinhos dentro de sua bolha da conveniência. Como me defenderam umas poucas pessoas com coragem suficiente para desafiar o senso mediano e fazer valer o justo, insisto em denunciar o preconceito na UFSM. Vergonha.