Março começou agitadíssimo: na sexta-feira, dia 6, o ministro do STF Teori Zavascki derrubou o segredo de Justiça dos nomes investigados na Operação Lava-Jato e foi divulgada a lista do procurador geral da República Rodrigo Janot.
No meio do rebuliço que a lista provocou, uma notícia abalou a minha segunda-feira, dia 9: um adolescente de 14 anos, Peterson Ricardo de Oliveira, morreu após ser espancado por colegas de uma escola pública na Grande São Paulo. O motivo da agressão é (mais) uma estupidez: o menino era filho de um casal de homossexuais.
Segundo depoimentos, Peterson, que era alvo constante de zombarias, foi massacrado num dos corredores do colégio. Os fatos ainda estão sob investigação, mas o prontuário do hospital afirma que o menino teve perfurações no pulmão, hemorragia interna e chegou à emergência com parada cardiorrespiratória.
Dois dos seis adolescentes que participaram do linchamento estiveram na casa da avó do menino e pediram desculpas. Enquanto nas redes sociais o mundo começava a se dividir entre petralhas e coxinhas, essa nova modalidade de luta de classes, a notícia da morte do guri passou batida.
Só que não podia passar sem ser notada: o linchamento de um adolescente é motivado pelo mesmo ódio que faz questão de arrasar quem quer que venha a discordar do que quer que seja. Não sei se os meninos que mataram Peterson eram petralhas ou coxinhas, se eram elite, se eram trabalhadores, se eram ricos ou pobres, burgueses ou proletários.
No entanto, dá para dizer que esses meninos foram criados dentro de um sistema de valores baseado no extermínio do diferente e com sérias deficiências morais. Um fato, e só um fato, aponta alguma esperança. Os dois meninos que foram se desculpar pela barbárie.
Como até pessoas com mais idade e com algum verniz têm se revelado medíocres na conduta e na vida, a atitude dos meninos os faz, de repente, menos estúpidos. Com relação à Lava-Jato e a todos os escândalos que nunca mais parecem cessar e que sangraram ao limite o país, que sejam exemplarmente punidos. Corrupção nada mais é do que o assassinato oportunista, lento e torturante de uma nação.
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Coluna
Cíntia Moscovich: o linchamento do menino e o ódio da discordância
A colunista escreve quinzenalmente no 2° caderno
Cíntia Moscovich
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