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Muita coisa rolou desde que a Ultramen lançou seu último material inédito: pandemia, troca de presidente, tentativa de golpe, Copa do Mundo, duas Olimpíadas, enchente no Rio Grande do Sul. Depois de quase sete anos, que parecem uns 20, a banda volta a divulgar música nova.
Na última sexta-feira (21), a Ultramen disponibilizou o single A Rima nas plataformas digitais. A banda vai lançar mais uma inédita, no dia 4 de abril, intitulada Na Crista da Onda.
Ambos os singles farão parte de um compacto de vinil 45 RPM que será lançado pelo selo gaúcho Made In Soul Records. O material deve ser comercializado ainda no primeiro semestre.
Apresentando a mescla de rock com rap, o primeiro single da retomada da Ultramen remete aos primórdios da banda. Quando foi fundado em 1991, o grupo apresentava muitas influências de bandas que realizavam a fusão dessas tendências — vide Faith No More e Scatterbrain —, além de nomes do rap como Beastie Boys e Public Enemy.
Com o tempo, a Ultramen viraria um liquidificador de ritmos: funk, reggae, samba rock, dub e muito mais. O grupo se notabilizaria por encaixar letras que têm algo a dizer — contendo críticas sociais e contestações políticas — com uma sonoridade dançante.
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Desenvolvimento coletivo
Mesmo remetendo aos primeiros sons do grupo, A Rima também carrega aquela sonoridade radiofônica e de assimilação fluida — uma característica marcante da Ultramen. O desenvolvimento do single foi coletivo, como relata o vocalista Tonho Crocco:
— Pedro Porto (baixo) trouxe a ideia do riff de guitarra, e a gente começou a trabalhar. NJay (MC e percussão) trabalhou muito nessa rima e trouxe a ideia do refrão. Quando a gente viu, já estava indo para a segunda música.
Além de Porto e Crocco, a Ultramen é formada por DJ Anderson (scratches), Leonardo Boff (teclado) e Zé Darcy (bateria), que está de licença até agosto de 2025 por conta de viagem à Albânia — em seu lugar, entra Márcio Pêxi. Como músicos convidados, há Chico Paixão (guitarra) e NJay (MC e percussão).
A Rima tem a mão do beatmaker e produtor porto-alegrense Duda Raupp, que já trabalhou com nomes como Cristal, Victor Xamã, Zudizilla e Rashid. Aliás, ele também produziu o segundo single, Na Crista da Onda.
Duda trouxe a base instrumental para a nova faixa, e o grupo a trabalhou. Com uma mistura de soul e rock, Na Crista da Onda traz referências de Marcos Valle, João Donato e Eumir Deodato. Crocco define o futuro single como "uma música brasileira com a dose certa para a Ultramen".
Sobre a escolha do formato para o lançamento, o vocalista indica que é uma forma de preencher uma lacuna:
— Como a gente só tinha duas músicas, me perguntei: "Como vamos lançar isso?" Percebi que a gente tinha todos os formatos físicos, fita K7, vinil e CD, menos compacto.
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Na ativa e fazendo shows
O último registro de inéditas da Ultramen data de agosto de 2018, com o álbum Tente Enxergar. Em novembro do mesmo ano, foi lançado o single Mama Earth Is Heaven, do projeto Brisadub Sound, que contou com participação da banda.
Desde então, o grupo não lançou mais faixas inéditas, embora continuasse na ativa e realizando shows. De acordo com Crocco, a pandemia freou qualquer ímpeto do tipo durante um tempo, mas também havia o principal compromisso de suas vidas: ele se tornou pai de gêmeos, por exemplo, e o DJ Anderson se tornou avô.
— As prioridades mudaram com esses fatos. É uma soma de fatores — explica o vocalista. — Também mudou o jeito (de divulgar o trabalho). Antigamente precisava de um EP ou disco, mas hoje se pode lançar faixas isoladas. A tendência é continuar assim. Quem sabe daqui a nove anos saiam mais duas músicas (risos).
"Ultrakids"
Crocco acrescenta que o processo de composição da Ultramen é demorado, mas, quando os integrantes se juntam, tudo é muito rápido. Por enquanto, para 2025, o grupo planeja realizar um show novo.
Um projeto recente da banda deve se repetir possivelmente em outubro: o show Ultrakids, direcionado às crianças. Desde 2023, o grupo tem realizado, esporadicamente, apresentações lúdicas direcionadas ao público infantil — com contações de histórias, adaptações musicais (Tubarãozinho ganha uma inserção de Baby Shark ou Borboletinha com arranjo à Bob Marley) e vestindo fantasias.
— Vejo como um produto que dá para virar um DVD ou álbum, dá para virar um livro. São muitas linguagens que a Ultramen nunca usou. Justamente por ser avô e pai, começamos a entrar nesse mundo. Agora é natural, estamos brincando com isso. O mais legal é que essa nova geração vai crescer com essa referência — avalia Crocco.
Diferentes projetos
Ao mesmo tempo, os integrantes da Ultramen se dissolvem em diferentes projetos: Funkalister, Tributo a Tim Maia, Pink Floyd das Antiga, entre outros. Para exemplificar, DJ Anderson é produtor musical no selo Nego Preto Discos.
— Sempre quis estar em um grupo que misturasse tudo — relata o DJ. — Essa é a banda que tenho como referência, em que gosto de estar sempre tocando. Quando saio de casa, já saio pensando que hoje tem ensaio ou show da Ultramen. No palco, é um outro mundo. Me sinto muito bem quando vejo meus colegas.
Para Crocco, a Ultramen segue sendo o projeto mais importante, mas ressalta:
— Isso não faz com que os projetos paralelos não sejam importantes ou interessantes para dar vazão aos outros lados criativos. Não vai ser legal fazer um disco de chorinho com a Ultramen, mas vai ser legal eu gravar porque faz parte da minha referência. Esses outros lados também inspiram a banda.