Quase tão fundamental para a identidade de Pelotas quanto os doces produzidos na região, a umidade da Princesa do Sul não passa despercebida por moradores e visitantes.
Em dito popular, o município ganhou o título de segunda cidade mais úmida do mundo — perdendo apenas para Londres. Enraizada na cultura local, a anedota acabou inspirando uma história em quadrinhos: Primeiro Londres, Depois Pelotas.
— O pelotense gosta muito da cidade. Existe um certo orgulho por esse título, mesmo que não seja verdade — explica André Berzagui, responsável pelo texto do gibi.
Na trama, a Terra se prepara para ser engolida por um buraco negro, e as cidades mais úmidas, as primeiras vítimas, são tomadas pelo mofo. Após o desaparecimento da capital da Inglaterra, Pelotas deve ser a próxima a sucumbir.
É nesse contexto apocalíptico que os jovens Daniel e Bruna, protagonistas da história, se preparam para viver um de seus primeiros — e último — encontro.
O enredo utiliza elementos de fantasia e ficção científica para falar de temas essencialmente reais e humanos: a necessidade de conexão e a dificuldade de expressar os sentimentos.
— A ideia era realmente criar algo exagerado, que extrapolasse a realidade e permitisse que a gente brincasse com isso mesmo — afirma o autor.
Concebida por Berzagui e seu então colega de apartamento, o ilustrador Vitor Werde, em 2021, a base da história foi desenvolvida ainda durante a pandemia de Covid-19.
O visual da história leva o leitor por um passeio por alguns lugares marcantes de Pelotas, marcados pelo que o escritor descreve como um "charme do mofo": algo melancólico e bonito.
Para Berzagui, essa atmosfera é um resultado direto da época em que a história foi criada.
— Havia uma vontade de estar junto, de não estar sozinho, e uma sensação de fim de mundo mesmo — relembra.
No final de 2022, a HQ foi contemplada pelo edital municipal Procultura. A conquista permitiu que a história fosse aprimorada e ganhasse uma versão física, lançada em 2023.
O projeto passou a ser feito a 10 mãos, contando, também, com diagramação de Ananda Valle, produção de Lauren Mattiazzi Dilli e coloração de Emmanuelle Schiavon, o que o autor destaca que garantiu um resultado único para a obra:
— Foi um projeto bem coletivo, mas com uma equipe pequena, então é possível perceber a contribuição de cada um ali.
Em 2024, o grupo lançou uma campanha de financiamento coletivo online, com o objetivo de realizar uma tiragem maior de exemplares. Em um mês, eles arrecadaram cerca de R$ 4,6 mil, mais que o dobro do objetivo inicial.
No Natal, a história foi disponibilizada no site FlipTru. A produção pode ser acessada de maneira gratuita.
*Produção: Maria Fernanda Freire