Ele era oito ou 80. Com Paulo Sant’Ana, não havia meio-termo. Talvez por isso (e pela genialidade inconteste), ele tenha entrado para a história do jornalismo gaúcho como um dos mais amados (às vezes odiados) cronistas do Rio Grande do Sul. Agora, oito anos depois de sua partida, o comunicador está prestes a ganhar uma biografia.
Escrita pelo jornalista Márcio Pinheiro, que conviveu com o mestre da crônica na redação de Zero Hora, a obra Paulo Sant’Ana - Gênio Indomável foi concluída no fim de fevereiro e deve ser lançada ainda este ano pela editora AGE. São mais de 300 páginas recheadas de histórias deliciosas, com imagens marcantes, algumas delas inéditas.
— A ideia surgiu no início de 2024, por uma provocação do Fernando Ernesto Corrêa (acionista do Grupo RBS), que era muito ligado ao Sant’Ana. Ele me disse: "Márcio, vamos fazer a biografia, está na hora, quero prestar essa homenagem". Eu topei. Comecei a reunir material e a ouvir pessoas. Foram mais de 30 entrevistas, com colegas, amigos, parentes e médicos do Sant’Ana — conta o autor.
Entre os interlocutores, estão nomes como o de Renato Portaluppi, ídolo gremista e um dos personagens mais mencionados pelo colunista em seus comentários diários no Jornal do Almoço, no programa Sala de Redação e na coluna em ZH (que, aliás, mudou a forma como as pessoas liam jornal, começando de trás para frente, graças a Pablito).
Além de colher depoimentos preciosos, Márcio leu centenas de colunas para compor o perfil do ex-colega, sem esconder nada. Sant’Ana está no livro como sempre foi: exagerado, desregrado, incontrolável, egocêntrico e amigo de seus amigos, em meio a carteiras de cigarro, doces, sambas, noitadas e mulheres. Resumindo: é um livraço.
— Ele era um cara cheio de histórias, com várias facetas. Foi muito legal escrever sobre isso, ainda mais pela relação que tinha com Porto Alegre. Era uma figura da cidade — diz Márcio.
Como se sabe, Sant’Ana também foi um homem vaidoso. Costumava escrever sobre como gostaria de ser lembrado na posteridade. Será que ele ficaria satisfeito com a biografia?
— Eu acho que sim. O resultado é fiel. O livro mostra todo o alcance de Sant’Ana como comunicador e polemista — conclui Márcio.
Muito do que se sabia sobre ele ficava na linha tênue entre verdade e folclore. O livro, agora, confirma tudo.
Sant’Ana e a IA

O livro é aberto com o texto “Estou nas nuvens”, escrito com auxílio da Inteligência Artificial (IA), como se fosse Paulo Sant’Ana.
Para que a ideia desse certo, Márcio Pinheiro “alimentou” o pedido feito à IA incluindo uma seleção de colunas de Pablo.
A partir daí, Sant’Ana ressurgiu. É como se ele tivesse acesso a ao que tanto desejou: saber como seria lembrado depois de sua morte. Leia um trechinho:
“Se há algo que sempre me definiu, foi a minha incansável necessidade de controlar meus espaços. Não apenas os físicos, como os que ocupei nas páginas de Zero Hora, nos estúdios da Rádio Gaúcha ou na bancada do Jornal do Almoço, mas também os espaços que ainda ocupo na memória dos gaúchos.
Eu não era apenas um cronista; eu era um personagem, uma lenda que se alimentava de si mesma.
Então, cá estou eu de novo. Desta vez, não numa coluna de jornal, nem num programa de rádio ou de TV, mas num texto criado na nuvem. E, claro, o livro é sobre mim. Quem mais seria?”