Toda semana, um jornalista do Grupo RBS irá compartilhar na seção O que Estou Lendo a sua paixão por livros por meio de dicas do que estão lendo no momento.
A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga, conta a história de Raquel, uma menina filha de uma família da classe trabalhadora que nasceu "fora de hora": os irmãos já estavam criados, a mãe já não tinha mais energia para criar filhos e o dinheiro já era escasso. Essa condição coloca Raquel em uma posição distante do restante dos membros da família, fazendo com que ela apele para amigos e escritas imaginárias para passar o tempo.
Logo no início da história, somos apresentados para as três grandes vontades de Raquel: ser gente grande, porque ninguém leva a sério o que as crianças falam; ser menino, para poder fazer todas as coisas que dizem que não é coisa de menina, como jogar bola, virar chefe de família e soltar pipa; e ser escritora, pois Raquel gosta de expressar a sua criatividade através da escrita.
Tudo muda quando ela ganha de doação uma grande bolsa amarela, que se torna um local de esconderijo para seus desejos mais profundos, para suas vontades e para personagens que permeiam uma linha tênue entre uma imaginação fértil e a realidade de uma menina solitária que vive sob a sombra dos adultos que conhece. É nesse lugar que conhecemos as histórias de um galo fujão idealista, uma guarda-chuva menina e um alfinete de fralda de bebê que acha que não serve para mais nada.
Lançado em 1976, em plena ditadura militar, A Bolsa Amarela tem uma linguagem simples: é narrado em primeira pessoa pela visão de uma menina de 10 anos. Mesmo assim, o livro fala com sutileza sobre temas intrínsecos a crianças e adultos, tanto na década de 1970 quanto nos tempos atuais: igualdade de gênero, democracia e respeito aos direitos das crianças.
Quase cinquenta anos desde a sua publicação, 'A Bolsa Amarela' segue sendo um texto muito necessário para questionar assuntos essenciais para a sociedade moderna
Li este livro pela primeira vez há mais de 20 anos, quando era criança, e alguns trechos reverberaram em mim durante todos esses anos, principalmente a insatisfação com o lugar da menina e das mulheres na sociedade. Em pleno 2025, o assunto segue sendo tabu em muitos lugares e espaços.
Quase cinquenta anos desde a sua publicação, A Bolsa Amarela segue sendo um texto muito necessário para questionar assuntos essenciais para a sociedade moderna. O pequeno livro de 140 páginas, que pode ser igualmente apreciado pelos mais jovens dos leitores e pelos mais maduros, celebra a igualdade de gênero e faz pensar: quem tem medo de meninas que questionam?

"A Bolsa Amarela", de Lygia Bojunga
- Editora Casa Lygia Bojunga, 140 páginas, R$ 50
- Ilustrações de Marie Louise Nery