
O representante comercial Jorge da Luz, 56 anos, estava feliz da vida segurando o pôster de Ainda Estou Aqui, que acabara de ganhar ao comprar um ingresso para o filme no GNC Cinemas do shopping Praia de Belas, em Porto Alegre. Ele, que mora em Três de Maio, no noroeste do Estado, ansiava por assistir ao longa-metragem dirigido por Walter Salles, mas não conseguiu em sua cidade, pois lá não há cinema.
Nesta sexta-feira (28), às vésperas do Oscar, ele aproveitou a passagem pela Capital para, finalmente, conferir o título. De acordo com ele, um dos fatores que o motivaram a assistir ao filme foi a oportunidade de ver em cena uma atriz como Fernanda Torres, a quem considera um dos grandes talentos nacionais. O outro foi a importância de recordar a ditadura militar:
— Se refere a um período sombrio da nossa história. Vivi um finalzinho, quando era criança, mas tenho uma noção de como era. É importante ver como se dá isso na tela. E as coisas têm que ser lembradas. As gerações têm tendência a esquecer as coisas que se passaram e que não foram com elas, porque é simples tu achar que aquilo ali não foi verdadeiro.

Copa do Mundo
Na mesma sessão, o psicólogo Luís Fernando Marques da Silva, 62, saiu de casa, em Porto Alegre, para, de acordo com ele mesmo, presentear-se com o filme estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. Foi sozinho. A ideia era ser um encontro entre ele e a obra.
— A véspera do Oscar é mais um gatilho para estar aqui, mas o principal é a história que está sendo contada, a nossa história, da ditadura, do enfrentamento, de toda resistência que o pessoal na época buscou fazer para que a gente pudesse ter um país mais livre, de expressão e de tudo. E, com o filme, vamos revisitar isso — explica Silva.
E, claro, ele acredita que todo este movimento, toda a exposição que a obra está tendo internacionalmente, com três indicações ao Oscar — melhor filme, melhor atriz e melhor filme internacional — só valoriza ainda mais a arte nacional:
— É como se fosse uma partida de Copa do Mundo. E é o último jogo. Estamos vibrando não só pela Fernanda Torres, mas também pelo cinema nacional. Acredito que a cultura brasileira vai ganhar uma visibilidade muito maior ao nível do mundo, ampliando para a música, para o teatro.

Programa de mãe e filho
Nádia Rodrigues, 62, aposentada, estava acompanhada de seu filho, Henrique Rodrigues, 25, que trabalha com tecnologia da informação (TI). Ela topou dar entrevista na porta do cinema, desde que não demorasse muito — afinal, não queria perder nenhum momento sequer de Ainda Estou Aqui, que estava prestes a começar.
— Vim assistir pela repercussão que está tendo e, também, pela história. Para a gente saber um pouco mais do que aconteceu naquela época. Acho que foi uma judiaria. E, assim, tomara que a Fernanda ganhe, né? — torce Nádia.
Henrique fez coro com a mãe:
— Não era nascido na época da ditadura, então acho importante conhecer um pouco mais da história. Mas vim assistir, também, para torcer ainda mais pela Fernanda. Vou assistir ao Oscar no domingo e espero que a gente saia premiado.
Fenômeno
A subgerente do GNC Cinemas do Praia de Belas, Adriana Fernandes, 42 anos, celebra a repercussão de Ainda Estou Aqui. Ela contou que, desde que o filme estreou, em 7 de novembro, nunca saiu de cartaz e, agora, com as indicações ao Oscar, aumentou o número de horários — e a procura não decepciona.
Na primeira sessão desta sexta-feira (28), às 15h45min, em um calor escaldante de Porto Alegre – 35°C nos termômetros – e véspera de Carnaval, 49 pessoas compraram os seus ingressos para conferir a produção. E a tendência é o público aumentar nos horários seguintes, com a chegada da noite.
— Está sendo um fenômeno. Não lembro de outro filme brasileiro ficar tanto tempo em cartaz. E com sessões que chegaram a esgotar, principalmente depois da vitória da Fernanda no Globo de Ouro — salienta Adriana, afirmando que não tem data para o longa-metragem sair de cartaz.
Antes do filme começar, três trailers foram exibidos. Todos nacionais: Uma Advogada Brilhante, Câncer com Ascendente em Virgem e Vitória, estrelado por ninguém menos que Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres. Quando o nome da atriz apareceu na telona, veio acompanhado dos dizeres "indicada ao Oscar", mostrando que o talento é de família.