A Disney conta com diversos parques temáticos que oferecem altas aventuras para os seus visitantes, com narrativas ricas em detalhes e que poderiam virar histórias de filme. E foi exatamente isso que os executivos do estúdio do Mickey pensaram. Algumas das atrações já renderam produções cinematográficas, como Mansão Mal-Assombrada (2003) e a franquia bilionária Piratas do Caribe (a partir de 2003). Agora, chegou a vez de outra experiência famosa ganhar uma adaptação para as telonas (e para o Disney+): Jungle Cruise, estrelado por Dwayne "The Rock" Johnson e Emily Blunt.
A aventura apresenta a história de dois ingleses, a Dra. Lily Houghton (Blunt) e o seu irmão MacGregor (Jack Whitehall), que, no começo do século 20, querem encontrar uma árvore lendária com flores que podem curar doenças e quebrar maldições. A planta, porém, está escondida na Amazônia brasileira. A dupla, para alcançar o seu objetivo, vai precisar da ajuda do malandro capitão de um barquinho chamado Frank Wolff (The Rock).
Juntos, os três enfrentarão uma série de vilões que querem encontrar a árvore para se beneficiarem: um quer que a Alemanha vença a guerra, enquanto outro pretende se livrar de um feitiço que o mantém preso ao rio amazônico há séculos. Os mocinhos, é claro, querem ajudar a humanidade. Começa, assim, uma aventura que mistura diversos filmes do gênero que fizeram sucesso com o público: Piratas do Caribe, Tudo por uma Esmeralda, Indiana Jones e, até mesmo, Velozes e Furiosos — a sequência da fuga do submarino explica essa comparação.
O Brasil na tela (mas não muito)
Jungle Cruise busca resgatar os clássicos filmes de aventura, com exploração da floresta, lendas, magia e, claro, personagens divertidos. Para isso, a Disney escolheu como seu protagonista um dos atores mais carismáticos (e rentáveis) da atualidade: Dwayne Johnson, o famoso The Rock. Na trama, o capitão Frank Wolff é dono de personalidade forte, da malandragem que acompanha os mais memoráveis protagonistas e de uma veia cômica constrangedora, que funciona muito bem para dar humor ao filme.
As interações de Frank com a Dra. Lily também se destacam na produção, sempre com muita química e uma nítida diversão por parte dos atores nos momentos em que atuam juntos. Os personagens principais, contando também com MacGregor, são o ponto alto da aventura, bem como o cenário onde a trama se desenrola: o Brasil. Porém, o país foi visitado, digamos, no modo home office...
Apesar de a aventura se passar na Amazônia, mais especificamente na região de Rondônia, a produção foi gravada bem longe do solo brasileiro. As filmagens de Jungle Cruise ocorreram no Havaí e em estúdios com tela verde ao fundo, com computação gráfica recriando a floresta. Porém, apesar de estar longe daqui, a equipe responsável pelo longa se empenhou nas pesquisas sobre a flora e a fauna locais e ainda contou com consultores culturais para representar os povos que viviam na região no começo dos anos 1900.
E, mesmo que a visita ao Brasil não tenha acontecido de fato em Jungle Cruise, esta é a terceira aventura de The Rock por aqui. Antes, ele esteve na Amazônia para filmar Bem-vindo à Selva (2003) e fingiu pisar em solo carioca para rodar Velozes e Furiosos 5: Operação Rio (2015) — que foi gravado em Porto Rico. Na nova aventura da Disney, o astro até arrisca algumas frases em português, é amigo de uma onça e ainda cita algo próximo da lenda do boto cor-de-rosa — tão brasileiro que, em breve, vira tema de samba-enredo do Carnaval.
Aventura para todos
Dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra, conhecido por suas contribuições nos filmes de ação com Liam Neeson e por comandar The Rock no vindouro Adão Negro, Jungle Cruise tem o nítido objetivo de ser um blockbuster para toda a família, seguindo fórmulas seguras de narrativa, mas que não deixam de ser efetivas — o deslize maior ocorre com os vilões vividos por Edgar Ramírez, Jesse Plemons e Paul Giamatti, caricatos. Tudo ali já foi visto em outras produções, mas a história ganha nova roupagem, protagonistas interessantes e pitadas de temas contemporâneos.
A Dra. Lily, personagem de Emily Blunt, por exemplo, foge completamente do estereótipo da donzela em perigo, sendo tão efetiva nos momentos de ação quanto o brucutu The Rock. MacGregor, vivido por Jack Whitehall, por sua vez, é um personagem LGBT+ que, apesar de não revelar ser gay com todas as letras, consegue acrescentar mais representatividade à trama com um discurso sobre ser "diferente", algo que era pouco provável alguns anos atrás em uma grande produção com classificação indicativa baixa (no Brasil, é para maiores de 12 anos).
Apesar de Jungle Cruise ser uma obra calcada quase que totalmente em efeitos especiais — infelizmente, com uma computação gráfica de menor qualidade daquela vista em Piratas do Caribe, sua principal inspiração, vários anos atrás —, essa expedição meio fake pela floresta Amazônica, na companhia de The Rock e Emily Blunt, vale a pena. É só subir a bordo, não se importar muito com os clichês e curtir o passeio. A diversão é garantida.