Rodado ora em uma plataforma de petróleo, ora em terra firme, O Olho e a Faca entrou em cartaz na última quinta-feira (27). É o terceiro longa-metragem de Paulo Sacramento, que antes se destacou com o documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro (2004) e a ficção Riocorrente (2013). O novo trabalho do diretor partiu de seu fascínio e curiosidade pela vida dos petroleiros nas plataformas.
Uma parte do longa foi rodada em uma plataforma em funcionamento, utilizando petroleiros como figurantes. Sacramento lança um olhar documental e instigante sobre as atividades que ocorrem em alto-mar. São cenas enquadradas em ambientes apertados, com a câmera deslizando por corredores estreitos e salas inteiramente tomadas por máquinas, que causam uma sensação de claustrofobia e refletem o interior do protagonista Roberto (Rodrigo Lombardi). Casado, pai de dois filhos, bem quisto pelos colegas de trabalho e com um romance fora do casamento, ele é um petroleiro que acaba de ser promovido para gerente da plataforma. No entanto, sua vida passa a afundar a partir da promoção.
– É um personagem que começa muito bem o filme. Está com a visão perfeita, tem uma vida organizada. De repente, algumas coisas começam a sair dos trilhos. Ele não tem a sensibilidade de perceber nem de tentar mudar isso. É quase como a história de Jó, que é posto à prova e começa a perder tudo. Roberto tem que retomar o rumo de sua vida, mas como? Enxergando o que está acontecendo – explica o diretor.
Reaprender a olhar
A narração em off que abre o filme antecipa uma da alegorias mais recorrentes da trama: "O olho tem uma superioridade sobre a faca: ele a vê chegar". Há sequências de Roberto realizando exames de visão para reforçar a essência de sua jornada: ele precisa reaprender a olhar ao seu redor. Esse simbolismo é transmitido em sua reta final: da janela de seu apartamento, o petroleiro observa um corvo levemente desfocado, que representa uma metáfora dos maus tempos ao seu redor. Roberto coloca os óculos e enxerga a ave com mais precisão.
Se em sua primeira parte, O Olho e a Faca tem uma estrutura mais tradicional, que flerta com o documentário, o longa carrega nos simbolismos em sua segunda metade, com a maioria das cenas em terra firme – no entanto, perde um pouco da energia inicial. Muitas lacunas da vida de Roberto não são desenvolvidas, mas o diretor indica que esse direcionamento foi intencional. Para Sacramento, o filme é para o espectador ver com olhos livres.
– O personagem está sempre atrasado em relação a tudo que está acontecendo na vida dele. Tínhamos que fazer que o espectador se sentisse assim também, descobrindo as coisas quando elas já aconteceram. Quem se entregar um pouco a esse jogo lúdico, pode se divertir – garante.