O diretor gaúcho Paulo Nascimento mira com o seu novo longa-metragem, Teu Mundo não Cabe nos Meus Olhos, em cartaz a partir de hoje, o almejado modelo de filme brasileiro com alma castelhana na pretensão de conquistar o público e coração portenho na forma de combinar os ingredientes da fórmula agridoce, modelo de dramaturgia composto por doses de melodrama e pitadas de alívios cômicos.
Rodado no começo do ano passado em Porto Alegre, Teu Mundo não Cabe nos Meus Olhos é ambientado no bairro ítalo-paulistano do Bixiga. Conta a história de Vitório, dono de pizzaria cego (Edson Celulari), casado com a professora Clarice (vivida pela estrela do cinema argentino Soledad Villamil), com quem teve a filha adolescente Alicia (Giovana Echeverria). Corintiano fanático, Vitório vive às turras com seu melhor amigo, o gaúcho Cleomar (Leonardo Machado), colorado doente.
Os conflitos futebolísticos são o tempero humorístico de maior intensidade. Mas é o drama que ameaça a harmonia familiar. Vitório tem a chance de voltar a enxergar por uma cirurgia ainda em fase de testes. Mas o mundo em cores lhe é tão estranho que o lança num desgosto profundo. O relacionamento com Clarice, argentina de família rica que, contra a vontade de seu bem-sucedido pai (o veterano ator argentino Héctor Bidonde), abriu mão de um futuro promissor em nome do amor, entra em sobressalto.
– Não é bem um drama pesado e não é comédia – diz Nascimento. – É difícil saber hoje o que é um filme popular. Pensávamos em um lançamento com 250 cópias, mas vamos entrar com 107. A crise afetou o mercado exibidor, e esse é um tipo de filme cujo espectador agora fica mais em casa, esperando passar na TV a cabo ou nas plataformas de streaming.
O diretor informa que este seu sétimo longa é o que contou com melhor estrutura de produção – orçamento de R$ 3,8 milhões, parceria com a Globo Filmes na produção e com a Paris Filmes na distribuição. A presença no elenco da estrela conhecida por sucessos do cinema argentino como O Segredo dos Seus Olhos é um trunfo, reconhece Nascimento, para fazer seu filme conquistar outros mercados:
– Já está vendido para cinco países africanos, estamos negociando com o mercado norte-americano e já surgiu até proposta de um remake no México. Esse é o caminho. Não dá mais para pensar apenas no Brasil como circuito de exibição.
Soledad, destaca o diretor, topou participar do filme assim que leu o roteiro em Buenos Aires. E ainda foi parceira de Silvio Marques, autor da trilha sonora, e de Nascimento na composição da música inédita que ela canta nos créditos finais, No Digas Nada.
– Essa é uma história universal, poderia se passar também no bairro de San Telmo, em Buenos Aires. São Paulo acabou sendo o cenário referencial em razão do perfil do personagem – explica o realizador.
Nascimento tem uma trajetória profícua, com produções para o cinema e para a TV em diferentes gêneros desde seu primeiro longa, o drama de época Diário de um Novo Mundo (2005). Já assinou documentário, drama intimista, aventura infantojuvenil e thriller político. Na terça-feira, encerrou na Capital as gravações da série Chuteira Preta. No dia 31 de maio, estreia mais um longa, Superfície da Sombra, adaptação do livro de Tailor Diniz. Ainda finaliza uma série documental em que ele e Leonardo Machado cruzam os EUA de moto. E, para 2019, anuncia um projeto ambicioso: rodar em Nova York a adaptação de seu livro ainda inédito Diário de uma Menina Gorda, cujos direitos foram adquiridos pela produtora americana Rose Ganguzza.
– Parece que trabalho sem parar, mas, por vezes, coisas planejadas em tempos distintos acabam se acumulando em uma mesma época. Escrevi esse livro a partir de relatos que ouvia de minha filha adolescente. Acabou caindo nas mãos da Rose, que tem muita experiência com o cinema independente. Estamos negociando para o elenco nomes como Beanie Feldstein, que trabalhou em Lady Bird.