Em editorial do dia 7 de abril de 1891, sob o título “Uma Nova Empresa”, o Jornal do Comércio comentava:
“Ultimamente foi aqui introduzida a luz elétrica para a iluminação de casas de comércio e, desde logo, ficou firmada sua incontestável superioridade. [...] Aproveitando a preferência que vai sendo dada à luz elétrica em estabelecimentos importantes da Capital, pensam diversos respeitáveis cavalheiros na organização de uma empresa em condições de fornecer luz aos edifícios tanto públicos como particulares”.
Conforme o historiador Sérgio da Costa Franco, as experiências com a iluminação elétrica haviam sido limitadas, como vimos acima, a algumas casas de comércio. Mas foram suficientes para interessar acionistas, que constituíram, no dia 11 de maio daquele ano, a Cia. Fiat Lux. Em 1893, essa empresa já faria a instalação de luz elétrica no Palácio do Governo (antiga sede).
Em crônica assinada por Eça d’Oliveira (pseudônimo de Zeferino Brasil), lê-se, em 1º de maio de 1895, uma interessante descrição da Rua dos Andradas – já sob a influência da luz elétrica: “Acendem-se os primeiros lampiões, e o foco elétrico da Pátria, como um grande luar, ilumina a fachada das casas fronteiras. As lâmpadas elétricas das lojas dão-lhe o ar majestoso dessas noites brancas de lua cheia”.
No final da década de 1890, os serviços da Fiat Lux já não agradavam muito a população, que reclamava. Preocupações com a iluminação pública dos bairros (uma vez que as ruas do Centro eram iluminadas a gás, por meio do contrato, que vigorava até 1906, com a Cia. Rio-Grandense de Iluminação a Gás) levaram o município a construir e organizar uma nova usina elétrica, de pequena capacidade, inaugurada em 1908, na Rua Voluntários da Pátria, esquina com a Rua Coronel Vicente.
No mesmo ano, uma terceira usina elétrica se instalaria, com o objetivo principal de assegurar o fornecimento de força aos bondes elétricos – então uma novidade. Foi a usina da Companhia Força e Luz, também na Rua Voluntários da Pátria, próximo da Rua da Conceição.
A princípio, apenas preocupada com seus bondes, a partir de 1911, a Cia Força e Luz Porto-Alegrense começou, também, a cuidar do fornecimento de energia às industrias.
No relatório da aludida Companhia, de 20 de janeiro de 1912, pode-se ler: “Conquanto já estivéssemos fornecendo energia elétrica para o funcionamento de muitas fábricas pelos nossos cabos aéreos, achamos conveniente explorar este ramo de negócio de modo definitivo, instalando cabos especiais nas ruas centrais da cidade. [...] Inaugurado o serviço de fornecimento em meados de setembro de 1911, contamos atualmente com 392 assinantes”.
Nos meados da década de 1920, a situação energética de Porto Alegre era crítica, sendo péssima a iluminação pública. Por essa época, a antiga Cia. Fiat Lux foi incorporada por uma nova empresa, a Companhia Energia Elétrica Rio-Grandense. Em 14 de agosto de 1925, a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense mudou sua denominação social para Companhia Carris Porto-Alegrense.
Foi dentro dessa conjuntura que, em 1928, o município celebrou o contrato com o grupo norte-americano da Bond and Share, para a concessão dos serviços de eletricidade em Porto Alegre. A Cia. Brasileira de Força Elétrica, daquele grupo, adquiriu o controle acionário das companhias locais (Energia Elétrica Rio-Grandense e Carris Porto-Alegrense) e comprou as instalações da pequena usina municipal. Empreendendo a construção da usina térmica, localizada no princípio, na Rua dos Andradas (Usina do Gasômetro), com boa capacidade de geração, dobrou em pouco tempo a capacidade instalada. Isso permitiu, durante alguns anos, o desenvolvimento do sistema de iluminação e da rede de bondes, além do desafogo das industrias.
O crescimento da cidade e de sua indústria clamava sempre por mais energia. Em 1943, o Estado, que fundara a Comissão Estadual de Energia Elétrica (transformada em Companhia Estadual de Energia Elétrica, em 1963), mostrava-se decidido a assumir o controle da geração de eletricidade em todo o território gaúcho. Depois de penosos racionamentos, em 1947 e 1948, a Usina de Emergência da Comissão Estadual de Energia Elétrica começou a operar, quebrando, desde então, o monopólio exercido em Porto Alegre pela subsidiária da Bond and Share.
A partir de 1951, devido aos maus serviços, o município decretou a intervenção nas companhias. Desde então, o fornecimento de energia elétrica na Capital passou a ser explorado pela autarquia estadual, depois transformada em sociedade de economia mista.
Fonte: livro Porto Alegre, Guia Histórico, de Sérgio da Costa Franco. Colaborou Antônio Carlos Contursi