Com a morte, no último sábado, da eterna Miss Brasil Martha Rocha, aos 87 anos, apaga-se mais uma referência de um país sempre esperançoso, mas tantas vezes obrigado a conviver com a frustração.
Um Brasil otimista, sorridente como as capas das revistas O Cruzeiro ou Manchete que ela ocupou, em maio de 1961, quando se casou, pela segunda vez, com Ronaldo Xavier de Lima, em cerimônia oficiada por dom Hélder Câmara, na Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Martha era viúva de seu primeiro marido, o banqueiro português Álvaro Piano (morto em um acidente aéreo), com quem teve dois filhos: Álvaro Luis e Carlos Alberto. Com Ronaldo, ela teve uma filha, a artista plástica Claudia Xavier de Lima.
Martha era uma dessas mulheres cuja beleza e carisma iluminavam o ambiente. Tive oportunidade de testemunhar pessoalmente esse fato, no início dos anos de 1980, quando a fotografei, no Rio, em encontros sociais ou bailes de Carnaval, nos quais sua presença era sempre festejada.
Aqui mesmo, no Rio Grande do Sul, uma visita sua a Caxias do Sul, em maio de 1955, marcou para sempre aqueles dias. Convidada por Carlos Caetano Pettinelli, empresário e diretor da Metalúrgica Abramo Eberle, ela visitou fábricas, foi homenageada com um almoço oferecido pelo CTG Rincão da Lealdade, no Restaurante da Exposição, junto ao Pavilhão da Festa da Uva, e deu o pontapé inicial na partida entre o Grêmio Esportivo Flamengo e o Grêmio de Porto Alegre, na Baixada Rubra. Segundo a imprensa, “vaidosa ao extremo, a miss veio escoltada por uma secretária particular e uma cabeleireira, que costumavam acompanhá-la em todas as visitas pelo país”.
A história das “duas polegadas” que teriam sido o motivo pelo qual ela ficou em segundo lugar no Miss Universo de 1954, foi uma invenção do jornalista João Martins, da revista O Cruzeiro, para consolar o orgulho brasileiro. Tudo foi combinado com os demais jornalistas que estavam em Long Beach. A própria Martha autorizou a versão, conforme consta em sua autobiografia. No livro, Martha contou que nunca soube se a história das duas polegadas era verdade mesmo: “Nos Estados Unidos, nunca ninguém me tirou as medidas”.