Na manhã deste sábado (21), o programa Super Sábado, da Rádio Gaúcha, conversou com Petrúcio Chalegre, atualmente mais conhecido como monge Genshô, 74 anos. Orientador espiritual e fundador da comunidade Zen Budista Daissen, que tem sede em Florianópolis, e de cerca de outros 40 centros de meditação espalhados pelo país, ele relembrou como foi o processo de mudar radicalmente o estilo de vida.
Executivo com grande experiência na área de marketing, ele decidiu abdicar da carreira para se dedicar à vida espiritual. No entanto, explicou que não necessariamente o budismo deve ser o oposto de uma vida executiva.
— Esta ótica dentro do budismo é muito antiga e frequente. Não se pensa que um leigo budista deva ser alguém que vive na pobreza, mas sim que trabalha, produz e ajuda a comunidade — pontuou ele na entrevista.
Questionado sobre qual foi o "estalo" para que ele decidisse seguir novos rumos, o monge, que chegou a atuar como executivo de publicidade no Grupo RBS nos anos 1990, refletiu sobre a efemeridade do seu trabalho.
— Saí para montar minha própria empresa e comecei a prestar consultoria para empresas no Brasil inteiro. Fui consultor de 42 jornais diários do Brasil. Ou seja, dois terços dos jornais existentes na década de 1990. E disso migrei para empresas de grande porte como a Sadia, Alpargatas S.A. etc. Líderes continentais em seus segmentos. Eu era um executivo muito bem sucedido. Mas fazia 200 viagens de avião por ano. Nesse processo, tive a sensação de que o que você faz no mundo corporativo é como fumaça. Você faz e desaparece. Hoje, passadas décadas, ninguém se lembra da minha atuação como fundador da maior academia do Brasil da época, lá por 1974. Ou do meu trabalho como diretor de indústrias no Vale dos Sinos. Isso tudo ficou em um passado remoto. Você sente o quanto as coisas desaparecem, escorrem entre os seus dedos — explicou.
Ao perceber que sentia inveja do seu professor budista da época, ele, que já praticava a meditação de forma eventual, optou então por de fato construir uma nova carreira e se tornar missionário oficial da Sotoshu, organização budista mundial:
— E realmente foi uma boa decisão.
Para quem gostaria de aderir aos conceitos do budismo, ainda que de forma menos radical, o monge recomenda a prática da meditação.
— A vida do monge é completamente diferente porque ele opta por fazer isso de uma forma radical. Em um monastério, vive-se de uma forma muito diferente da vida moderna. Para quem tomou uma opção como a minha, é uma opção radical. Mas isso é marca da minha própria vida mesmo, de fazer as coisas de forma aprofundada. Agora, para aquele que está no mundo do trabalho, existe o caminho do leigo, um caminho intermediário. Trabalhar em prol dos outros seres diminuindo o sofrimento no mundo e continuar na tarefa a que se propôs sem optar pelo radicalismo da vida do monge, que abdica dos bens materiais, abdica de muitas coisas, para viver de uma forma completamente diversa — explicou.
Na entrevista, o orientador espiritual também relembrou como seus familiares e amigos lidaram com a transformação de sua vida.
— A reação dos meus colegas foi: "Ele enlouqueceu" (risos). Hoje, acredito que a opinião é completamente diferente — contou ele. — No início você era louco, agora você é respeitado e convidado para fazer palestras públicas e ouvido com respeito.
Este momento é o pico da montanha, é o máximo. Eu trabalhei toda a minha vida para chegar aqui, é a realização plena. Se a gente atinge essa consciência, está sempre se sentindo realizado, feliz
MONGE GENSHÔ
Pico da montanha
Por fim, o monge explicou o conceito por trás da frase: "O pico da montanha é onde estão os meus pés", que norteia a reflexão de um de seus livros.
— Nós lutamos tentando alcançar coisas ou sucessos que estão em uma montanha logo a seguir. Estamos sempre subindo uma montanha, tentando alcançar algo. Corremos, corremos e ficamos insatisfeitos até a morte, sempre nos achando irrealizados. Quando você compreende melhor a profundidade do pensamento zen budista, você pode compreender esse dístico. "O pico da montanha é onde estão os meus pés": este momento aqui falando com você foi construído através de toda a minha vida. Este momento é o pico da montanha, é o máximo. Eu trabalhei toda a minha vida para chegar aqui, é a realização plena. Se a gente atinge essa consciência, está sempre se sentindo realizado, pleno, feliz. É completamente diferente de estar correndo atrás de algo que não se alcança.
Ouça a entrevista na íntegra: