No caminho até o Hotel Holiday Inn, em Porto Alegre, o taxista quer saber o nome do entrevistado.
– Amyr Klink – respondo, enquanto folheio o oitavo livro de um dos maiores navegadores brasileiros, Não Há Tempo a Perder (editora Tordesilhas), um depoimento à jornalista Isa Pessoa que ele veio lançar na Capital no final de março.
– Já li todos os livros dele. Sou fã, começo e não paro de ler – prossegue o taxista, descrevendo situações encaradas por Amyr no best-seller Cem Dias entre Céu e Mar, relato da travessia do Atlântico Sul a remo.
Naquela aventura, a primeira, Amyr tinha 30 anos. Concebeu a rota e remou sozinho, entre a África e o Brasil. De lá pra cá, foram 40 viagens para a Antártica e outros seis livros, como Mar Sem Fim, a história de outra viagem até hoje não repetida: a circunavegação polar pela mais difícil rota marítima do planeta.
Formado em Economia pela USP, com pós-graduação em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie, Amyr planeja seus próprios roteiros, constrói os barcos, desenvolve soluções flutuantes e opera a Marina do Engenho, em Paraty. Mais recentemente, tem se dedicado, como passatempo, a construir geodésicas, estruturas arquitetônicas utilizadas por diversas civilizações desde a antiguidade.
Esse espírito empreendedor, curioso, lhe concede uma característica de Professor Pardal brasileiro e conquista milhares de fãs. As dificuldades enfrentadas servem de exemplo para palestras para as quais é chamado. Executivos bebem de sua experiência em situações-limite no mar para conduzir suas empresas nas águas turbulentas da economia.
Aos 61 anos, Amyr rejeita rótulos – não gosta de ser chamado de aventureiro, tampouco empresário. Diz que seu novo livro é uma tentativa de deixar algum legado, mostrar que mesmo as ideias mais absurdas podem se tornar factíveis "se você se compromete a destrinchar cada pedaço do caminho". E critica, nesta entrevista, um país "cego" aos potenciais turísticos e econômicos da água.
Em seu novo livro, você foge do padrão aventura. Por que optou por uma espécie de autobiografia?
Porque quem olha de fora o que eu faço acha que sempre dá certo. Queria contar os bastidores do processo angustiante, da demora para cada projeto. O pessoal sempre acha que tudo é uma sequência de êxitos. Queria falar sobre as dificuldades, as oportunidades que a gente está perdendo no Brasil em relação ao turismo e que poderiam gerar riqueza. A gente tem uma espécie de cegueira em relação ao potencial do país. Viajo muito pelo país, conheço bem essa atividade (náutica). Tenho toda a minha atividade sobre o mar: fábrica de gelo, escritório, clientes, funcionários, tudo flutuante. Essa atividade das marinas molhadas, da operação de frotas de embarcação, é tremendamente próspera. No Brasil, não vinga porque a legislação trabalhista é equivocada. Para você trabalhar em um barco no Brasil tem de fazer curso na marinha mercante. É como se, para dirigir um helicóptero, tivesse de ficar sete anos na Aeronáutica. É uma aberração. Uso o exemplo de Palma de Mallorca, que fatura US$ 25 bilhões por ano só com locação de barcos. Todo o PIB de turismo do Brasil não gera US$ 20 bilhões. Porto Alegre tem espaço para 10 Palmas de Mallorca em água doce, para marinas com certificação ambiental, porque aqui não precisa colocar tinta venenosa, a água é doce. Vocês têm um espelho d’água, e aqui não tem porto. O projeto de recuperação da Usina do Gasômetro foi feito por ignorantes, que não fizeram um atracadouro. E a água, filho? Para que é? Para jogar o esgoto da cidade? Para que esse muro (da Mauá)? Vocês têm medo? Pô, em Blumenau, a água subiu seis metros e está todo mundo trabalhando lá. O banco funciona, a cada 10 anos a água sobe. Por que a cidade de Porto Alegre tem de castrar o porto do seu nome?
Com que frequência você vem a Porto Alegre?
Em média uma ou duas vezes por mês. Os gaúchos não gostam do Guaíba? Qual é o problema? Tem medo da água? Mesma coisa no Rio. O carioca se borra de medo do mar. Fica na prainha... Não tem um barco sequer. Só o Rio teria um potencial para fazer de R$ 80 bilhões a R$ 100 bilhões por ano se viabilizasse o desenvolvimento e a vinda de empresas de charter de fora. Muitas querem vir para o Brasil, mas, para montar umas cem bases, precisa fazer seguro para a operação. Sem seguro não funciona, e sem habilitação profissional você não faz seguro. Tenho uma carteira de capitão amador, logo não posso exercer atividade remunerada. É uma incongruência absurda, somos o único país do mundo que não reconhece habilitação de iate master para locação de barco.
Você se considera mais empresário ou navegador?
Não quero ser empresário, mas também não quero ter patrocínio de empresa, não quero pedir dinheiro em banco. Quero ter a autonomia que tenho, uma atividade de que gosto muito, que é a gestão de frotas de barcos de terceiros. Na minha marina, trabalham 700 pessoas que ganham mais do que um gerente de banco. Tenho espaço para quadruplicar minha atividade e empregar mais 3 mil pessoas. Não consigo porque existe o problema de corrupção e da legalização do trabalho nas embarcações.
No Brasil, tem-se uma percepção de que náutica é uma prática elitizada.
No Brasil, essa é a realidade. Porque quem tem alto poder aquisitivo é otário. Quando tem dinheiro para um barco, ele compra uma embarcação só para ele. Um europeu jamais faria isso. Se estou na Europa, compro um barco de 20 milhões de euros e vou passar imediatamente a uma locadora, quero que esse barco custe nada para mim. É como comprar um helicóptero em São Paulo: você o coloca para locar. Um helicóptero eu posso locar porque o piloto pode exercer atividade remunerada, o comandante do meu barco não pode. São as incongruências.
Como o cidadão Amyr Klink vê o Brasil hoje? Vai sair melhor ou pior depois da Lava-Jato?
Se não sair melhor não será porque a gente não merece. Será porque somos covardes em todos os sentidos. E se a gente não aproveitar agora... É um escândalo. Isso aí que está acontecendo no Rio de Janeiro, um Tribunal de Contas capacho de políticos e empresários... Não pode. Não pode um Sérgio Cabral sair vivo. Tinha de ser enforcado em praça pública. Não sou adepto de condenações cinematográficas, mas me preocupa a falta de indignação do carioca. Por que eles não estão indignados? O cara minou sistematicamente o Estado, é autor de centenas de assassinatos, de morte. O dinheiro que ele desviou causou sofrimento, doença, morte. Acho que é maravilhoso o que está acontecendo.
Você criticou em uma entrevista a Petrobras e recebeu uma resposta do presidente da instituição. Você se arrepende?
Eu recebi uma carta do Pedro Parente, que era uma espécie de bronca, dizendo que ofendi a Petrobras. Eu não ofendi a Petrobras, não ofendi os funcionários da Petrobras. Comentei um fato que é realidade. É uma empresa corrupta. Lamento pelos funcionários da Petrobras. Mas meu comentário, infelizmente, é realidade. "Ah, mas foram só sete pessoas que mancharam o nome da Petrobras". Lamento, não foram só sete.
Mas você já foi patrocinado pela Petrobras, não?
Nunca tive patrocínio, tive um convênio com o Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras), que eu gostaria que fosse um patrocínio. No dia em que propuseram que o convênio se transformasse em patrocínio, ofereceram pagar três vezes o valor do nosso contrato, mediante bonificação para algumas pessoas. Eu encerrei abruptamente. Briguei com meu sócio, que disse: "Você é louco, não vamos perder o projeto, estamos devendo para um monte de gente". A gente continuou devendo, terminamos o projeto. Mas não são seis ou sete pessoas (corruptas). É um problema sistêmico. Quem não concorda com corrupção e está em uma empresa corrupta, como a Odebrecht, deveria ter a decência de pedir demissão.
Você chegou a responder ao Pedro Parente?
Falei com a ouvidoria. Recebi duas cartas muito agressivas e milhares de cartas, que não quero revelar o conteúdo, dizendo que é pior do que se imagina. De pessoas me apoiando. Então, não tenho do que me desculpar. É minha opinião. Tenho direito. Ele falou: "Você representa o Brasil, não pode falar isso da Petrobras". Eu não represento o Brasil. Sou um cidadão. Tenho um poder soberano, que é escolher a marca onde abasteço. Quando o brasileiro tiver consciência do poder que tem, com seu discernimento e sua escolha, não vai acontecer mais isso.
Falando sobre as suas viagens: a partir das suas experiências solitárias, depreende-se que você gosta de ficar sozinho.
Não são experiências solitárias, são experiências que eu fiz sem outros tripulantes. Quando você tem esse privilégio de se tornar o próprio provedor... A gente vive em comunidade. Mesmo se eu ficar sozinho nesse hotel durante 10 anos, nunca vou estar sozinho. Tem alguém que faz a água, que trata o esgoto, que prepara o meu almoço, que lava a minha roupa. Essa foi uma experiência que aprendi viajando solitário, você começa a ter noção do conjunto de facilidades que a vida em uma urbe proporciona. Normalmente, a gente não pensa nisso.
Depois dessas aventuras, você consegue sentir prazer fazendo turismo tradicional?
Nossa! É uma maravilha ir para a Antártica em um navio de turismo, não ter que fazer turnos, dormir só um pedacinho de 45 minutos, não ter de cuidar da burocracia para entrar e sair dos portos, da vigília noturna. É duro.
Eu digo turismo mesmo, para Paris, Nova York...
Não, eu gosto de fazer turismo em cidades exóticas da África, do Brasil. Gosto de viajar com um propósito. Nunca iria para Paris para ficar passeando. Adoro ir a Paris para descobrir um fornecedor.
Você afirmou para a Folha de S. Paulo que um de seus sonhos de viagem seria ir para Amazônia, “de preferência com um barquinho bem simples. De forma quase invisível”. Está cansado da visibilidade?
Não, não... é porque é perigoso mesmo. Tem de ser com um barco local, porque se eu chegar lá com um veleiro cheio de nós... Infelizmente, o grande problema da navegação na Amazônia são os assaltos. Tem gangues especializadas em assaltar embarcações. Você tem que passar em um comboio.
Quando perguntam sobre medo, você diz que é um medo divertido. O que é isso?
A gente paga para ter medo em um parque de diversões, não paga? Eu tenho medo de machucar terceiros, de me machucar, de quebrar a embarcação, mas faz parte do processo. O medo é um dos problemas que você tem que administrar no barco. Os outros são desempenho, segurança, objetivo.
Você se mostra um homem meticuloso. Mesmo durante a aventura, na hora em que está na Antártica, você consegue curtir o momento?
Estou sempre curtindo. Levo sempre na brincadeira. Não sou um cara chato, o tempo inteiro tenso. Mas o fato é que, no barco, tem problemas. Se você não tiver controle, calma, um certo senso de humor para analisar... Eu falo: "Bom, a gente tem 40 minutos para resolver ou estamos todos mortos. Se a gente não resolver, o bar está aberto, vocês podem se abastecer à vontade, mas acho que a gente tem que descobrir de onde vem essa água" (risos). Eu sou meticuloso meio humorístico. Mas é real: "Se estourar aquele cabo puído, perdemos o mastro, não terminamos a viagem, não sei se a gente volta para casa". Os franceses ficam intrigados porque eu fico o dia inteiro escalando, passando cabo. Eu falo: "Uai, porque eu quero beber, quero abrir o melhor vinho, ficar cinco dias aqui em paz". Quando entram tempestades antárticas, os ventos de aceleração gravitacional que destroem tudo, sai todo mundo em pânico, e a gente está lá curtindo a tempestade. Eu gosto de ter esse prazer: passar situações de alto risco com conforto, com segurança.
Voltando ao seu mais recente livro, há uma certa pegada de autoajuda.
Não, Deus me livre, detesto autoajuda. É que eu estou preparando um livro para daqui a dois anos e essa jornalista (Isa Pessoa) falou: "Amyr, não vamos esperar dois anos, vamos fazer já, uma espinha dorsal dos assuntos de que você quer falar. Você me dá o depoimento, e a gente faz o livro". Eu nunca tinha trabalhado desse modo. Gosto de escrever, de revisar texto, sou muito crítico, a maioria dos jornalistas brasileiro não sabe escrever, escreve mal. A maioria dos autores famosos brasileiros escreve mal.
Quem escreve bem na sua opinião?
Campos de Carvalho (1916-1998) é um cara que escrevia bem, é um dos raros. Claro, tem muitos autores clássicos também. Mas tem muitos contemporâneos que escrevem mal, que apregoam a erudição. Uma coisa é a erudição, outra é escrever bem.
O que falta?
A gente tem um problema de falta de preparo. Você pega um autor de cordel do Nordeste, que não tem erudição nenhuma, e ele domina a língua. Um repentista que faz desafios em decassílabos é impressionante. A gente tem muita capacidade intelectual, mas tem muito pouco preparo, se prepara muito pouco, estuda pouco.
Você está preocupado em deixar um legado?
Eu queria dar um recado para as minhas filhas, para os meus amigos. Não escrevo para a humanidade. Detesto essa coisa de dar conselho, faça assim, faça assado... A gente é convidado pelas empresas pra falar, mas acho que existe uma sede de um discurso autêntico e não de dar conselho. Dar conselho, professor de universidade dá de montão. A gente não precisa de conselho, a gente precisa de exemplos reais e autênticos.
Mas você é procurado para isso.
Sim, mas eles acham que vou fazer uma analogia, "no meu barco faço assim, na sua empresa faça assado". Deus me livre. Seria a mais cristalina hipocrisia.
Você usa bastante a expresão “Deus me livre”. É religioso?
Não, Deus não existe. Ponto. Cada um constrói o seu Deus. Não aceito a imposição de uma autoridade maior em termos de religião, que domina tudo sobre todos. Por quê? Os budistas não têm razão? Os chineses? Os árabes, os judeus? Tantas convicções religiosas no mundo são falsas? Não aceito a imposição da sua religião sobre a minha. Acho fascinante estudo religião, gosto, mas fico fascinado em entender por que a crença move as pessoas em direções tão opostas e com tanto ímpeto.
Construir domos geodésicos é seu novo hobbie?
É uma brincadeira. Alguns anos atrás, comecei a estudar a matemática geodésica do (Richard Buckminster) Fuller. Fiquei fascinado. Gosto da arquitetura da eficiência máxima. Então, comecei a aprender a compor os projetos e depois a executá-los com precisão. Em barco, não dá pra fazer mais ou menos. Não gosto de luxo, mas não gosto de nada mal feito. Tem que ser simples, eficiente, funcional, durável, resistente e bonito. Aí, comecei a fazer bolas geodésicas, com mil, 2 mil metros cúbicos, 15 a 20 metros de altura. São peças grandes. Uma esfera perfeita.
É como uma obra de arte?
Também. A primeira geodésica grande que montei foi em um terreno do lado de casa em São Paulo. Montei sozinho, vários dias, pra ver se funcionava, se meu projeto estava certo. Eu fazia os cálculos com calculadora, computador, não tinha programas para projetar geodésicas. As vizinhas passavam e diziam: "O que é isso?". Eu dizia: "Uma geodésica de Fuller, frequência x". Falavam: "Pra que serve?". Eu dizia: "Pra nada (risos)". Percebi como incomodava as vizinhas o fato de eu fazer uma megaestrutura que não serve pra nada. Aí falavam: "Mas o bairro é residencial, aqui não pode fazer", "Vai inaugurar quando?". Falei: "Não vai inaugurar". "Mas vai cobrir como?". Falei: "Não vou cobrir, é só pra poder escalar". De repente, aparecia um louco e comprava para fazer um grande galpão, para fazer um evento. Eu faço, invisto um dinheiro razoável e vendo.
Estávamos vindo pra cá, de táxi, e comentando a entrevista. O taxista disse: "Nossa, eu li todos os livros do Amyr Klink". Você é uma pessoa pop. Isso lhe incomoda?
Não gosto disso, não faço novela... Nunca percebi isso. Ninguém me incomoda na rua.
Os mares do Sul têm a fama de ser violentos. O que é verdade e o que é lenda?
É verdade, são violentos. À medida que você vai aumentando a latitude (a distância entre a linha do Equador e os polos), as dificuldades vão aumentando. O litoral gaúcho aqui é um inferno. São ventos perigosíssimos. É um mar de baixa profundidade, de grande violência, onde não tem porto. É um lugar com poucos recursos e de condições climáticas muito adversas.
O que ficou da aventura de 1984?
Foi fruto de tantas dificuldades, tantos problemas que, ao final, a coisa mais simples era remar. Tento mostrar isso no livro. Antes de sair do Brasil, a burocracia, a documentação do barco, levou 15 anos para ficar pronta, levei o barco sem conseguir fazer o processo de exportação. O barco ficou ilegal, foi uma importação ilegal quando cheguei à Bahia. Ganhei tudo o que era condecoração, comenda, medalha Tamandaré, e a Marinha não conseguiu resolver o problema da documentação do barco. O Paraty 2 até hoje não tenho o documento definitivo. Quatorze anos, 14 viagens para Antártica, volta ao mundo, invernagem na Antártica, viagem no Hemisfério Norte, ainda não saiu o documento final. Tudo é difícil aqui.
Qual a próxima viagem?
Sempre tive vontade de fazer a passagem Nordeste, conectar o Ocidente ao Oriente pelo Ártico, que é uma passagem mítica, levou quase quatro séculos para ser feita, e não se mostrou uma passagem viável. Com o aquecimento global, nos últimos anos ela está ficando viável, só que a Rússia é um país muito complicado. Não tem segurança institucional. Tem problemas de corrupção, é muito difícil entrar com um barco privado lá. Não quero perder meu barco pra um burocrata russo. Esse ano, quando a gente voltou da Antártica, eu encontrei o pessoal do comando da Marinha, e o Torben Grael, e ele sugeriu de fazer uma viagem com o suporte burocrático da Marinha brasileira. A Marinha se interessou, e a gente está subindo o barco esse ano, vamos invernar ele no Artigo, provavelmente, ou na Noruega, em algum lugar escandinavo, pra fazer a passagem no ano que vem.
Você não gosta de dar conselho, mas o que diria a quem sonha em se aventurar pelo mundo?
Tenho dificuldade em dar conselho, mas o que percebo é que tem muita gente que vê o resultado do que acontece depois que você faz. É um problema dos jovens, não no Brasil apenas, mas no mundo todo: ter foco, se dedicar, existe uma sede, uma vontade muito grande de se pular as etapas e de chegar. O processo é lento. Toda semana, vai um louco no meu escritório. "Ah, eu quero fazer… Já tenho assessoria de imprensa, o preparador físico para atravessar remando o Atlântico, já estou negociando com os patrocinadores". Eu falo: "Filho, você tem um barco?". "Não, o barco ainda não pensei". Falo: "Você nunca vai fazer isso". Ao mesmo tempo você tem exemplos incríveis de gente focada, às vezes gente muito humilde, muito decidida, resiliente, dedicada. Se eu tivesse os recursos que sonhava no começo, nunca teria dado certo o que eu fiz. Para construir o Paraty 2, a cada dia que fiquei no estaleiro a gente modificava o projeto. Com isso, fomos construindo uma cultura de simplicidade, chegar no resultado sem desperdiçar material, sem torrar dinheiro, sem gastar tanta energia. No final, o projeto foi interessante por causa disso. Era um esforço permanente.