
Presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar comanda uma instituição que está vinculada ao abate diário de milhares de animais. Apesar disso, condena sem meias palavras o sacrifício de um cordeiro pelo apresentador Rodrigo Hilbert.
Na visão do líder setorial, o que ocorre nos abatedouros fica nos abatedouros. Ele diz que a indústria nunca exibe imagens de animais sendo mortos, para não ferir suscetibilidades e não prejudicar o consumo.
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Na entrevista a seguir, Salazar também recrimina Hilbert por não ter seguido as normas sanitárias e de bem-estar animal que regem os abates para consumo humano.
Como o senhor viu a repercussão que teve o abate?
É sempre chocante você assistir a um abate. Sempre que se quer fazer um vídeo ou um material publicitário a respeito da indústria de carne, nunca se mostra o abate do animal, porque isso toca nas pessoas. A gente filma a carne sendo embalada, sendo transportada nos caminhões, sendo vendida, mas nunca o abate do animal, porque aquilo é chocante. Faz parte do sentimento de cada um, embora ninguém desconheça o fato de que os animais foram abatidos. E são abatidos aos milhares, todos os dias, no país todo. O que ninguém quer é ver esse procedimento sendo exposto na mídia. Isso que chocou as pessoas.
O senhor vê algum lado positivo no programa, no sentido de as pessoas terem presente que o abate ocorre?
Não. Não vejo nada de positivo, inclusive para as crianças. É melhor sempre ficar resguardado o processo de abate. Porque isso mexe com o sentimento das pessoas. E na internet, na mídia, as crianças estão expostas.
Que efeito essas imagens poderiam sobre as crianças?
Acho que tem um efeito negativo. Elas podem ver aquilo como uma coisa bárbara, muito violenta. E também tem um efeito negativo para a indústria, para o próprio produtor. Porque pode haver uma reação contra o consumo. Não pode mostrar.
Vocês sempre têm esse cuidado?
Sim. Ele (Rodrigo Hilbert) pisou na bola. Tanto que já pediu desculpas. Nunca poderia ter mostrado isso na mídia. Não pode. Ele errou. Que não se repita.
As condições em que ele realizou o abate são adequadas?
Não, nada. Estão fora das normas. Totalmente fora. Sob o ponto de vista de sanidade animal e higiene do produto, é um péssimo exemplo. Na indústria, é tudo feito dentro das normas e dentro de um processo de bem-estar animal. O animal não sofre para morrer.
E nas condições em que ele fez?
Isso não foi respeitado. Tem mais esse aspecto a considerar. O Ministério da Agricultura tem hoje um conjunto de normas que estabelece o chamado abate humanitário, prevendo equipamentos e métodos de insensibilização do animal, indolores. Não tem dor para o animal.
O fato de ser um filhote que ele abateu piora a situação?
Mexe mais ainda com as pessoas. Dobra o sentimento de indignação. Pisaram na bola. Existe abate de recém-nascidos, em que ao nascer o animal já é abatido. É um produto consumido em larga escala na população, os vitelos. Nasceu, já morre em seguida. Todo mundo sabe. Mas vai mostrar isso na TV? Não pode. Enseja desestímulo ao consumo.