
Para alguns, a paixão pelos carros modificados é antiga. Para outros, a curiosidade sobre esse universo — já consolidado em competições de arrancada, drift e velocidade — surgiu com os vídeos que viralizam nas redes sociais. A febre das personalizações, no entanto, vai além da estética ou do desempenho: é uma forma de expressão. Especialistas alertam que, apesar da popularidade, existe um limite para as alterações.
— Isso está no nosso sangue. É parte do nosso passatempo, do nosso hobby, da nossa diversão — resume o consultor de gestão e tecnologia Juliano Ribeiro, 48 anos, enquanto observa, com orgulho, o Volkswagen Gol GTS 1993 azul riviera que começou a personalizar há mais de uma década.
No TikTok, vídeos de carros rebaixados, adesivados, turbinados, remapeados e com uma série de outras modificações ganham milhões de visualizações. No Instagram, os veículos ganham perfis próprios para exibir cada detalhe.
O Gol de Ribeiro não está nas redes, mas é presença constante em competições e encontros da cena automotiva. Para o dono, o valor vai muito além do visual ou da performance. É uma relação construída ao longo dos anos, peça por peça, marcada por memórias e muitas horas dedicadas na garagem.
— Quando eu tinha 22 anos, o meu pai tinha um carro igual a esse, dessa cor azul riviera. Era o carro da família, em que eu aprendi a dirigir e comecei a me criar nesse ambiente automotor viciante, porque meu pai também tinha oficina. Em 2011, meu irmão enxergou esse carro em Pedro Osório (no sul do Estado) e me ligou. Compramos e, desde então, venho retrabalhando nele. A melhoria é contínua — relata.
Alta performance

A estética do veículo continua old school, com as mesmas características de quando foi lançado. Para Ribeiro, que tem um apego sentimental pelo modelo, manter a parte de fora preservada é fundamental.
Por dentro, algumas coisas mudam. Por não ser um carro turbinado originalmente, ele foi aspirado — modificação para melhorar o desempenho. De fábrica, o Gol azul riviera contava com 90 cavalos. Agora, tem 200. Isso é o equivalente à potência de um Volkswagen Jetta GLI, por exemplo.
Essas modificações só são permitidas pela lei porque o carro é utilizado para competições, e não para passeio. Nos autódromos, Ribeiro participa de provas de arrancada. São disputas de velocidade em linha reta, nas quais os veículos aceleram o mais rápido possível. A distância entre o ponto inicial e o final é curta e vence quem cruzar a linha de chegada no menor tempo.
— Estes veículos são registrados na categoria "competição", e só podem circular na via pública sob determinadas condições — explica Altamir Almeida Gomes, responsável pela coordenadoria de suporte a credenciados da Divisão de Veículos do Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran-RS).
Busca por personalidade

Motoristas modificam carros por diferentes razões, que vão desde o aumento de desempenho até adaptações estéticas. As alterações podem envolver sistemas de som, suspensão, motor e estrutura. Para Rafael Pires Grillo, mecânico e consultor de performance, trata-se de uma busca por personalidade.
Grillo tem clientes de todas as idades e perfis. Alguns optam por fazer o remapeamento de carros novos, que é uma espécie de reprogramação eletrônica para dar mais potência ao veículo. Outros, como Ribeiro, preferem melhorar o desempenho dos carros antigos.
— O pessoal que me procura costuma ter carros dos anos 1990, alguns de antes disso. Eles adicionam dinheiro em cima para fazer o carro ficar mais bacana. Vão colocar umas rodas, mexer na estética, na mecânica, colocar uma eletrônica diferente. Noto que esse movimento teve um aumento nos últimos dois anos. Têm pessoas mais jovens e mais velhas — avalia o especialista.
Quais modificações são possíveis?

Carros modificados, ou preparados, são veículos que passaram por alterações em relação ao estado original de fábrica. As mudanças podem ser para melhorar o desempenho, adicionar som automotivo e transformar a estética, por exemplo.
Algumas das alterações possíveis são:
- Remapeamento
- Escapamento esportivo
- Caixas de som
- Suspensão alterada, fixa ou ar (para rebaixar)
- Adesivamento e pintura
- Rodas esportivas
- Bodykits (saias laterais e aerofólios)
- Faróis e lanternas
- Interior personalizado (bancos concha, volante esportivo, painéis de LED)
Algumas dessas modificações são permitidas por lei, desde que sigam o protocolo de permissão e as regras estabelecidas pelo Detran-RS.
Gomes, da Divisão de Veículos, explica que modificar a suspensão para rebaixar o carro é permitido, desde que siga os critérios de altura definidos para cada tipo de veículo e desde que o proprietário solicite autorização do órgão antes. Para mexer no escapamento, também é necessário seguir os padrões de ruídos pré-estabelecidos pelo Detran-RS para tornar a modificação legal.
Turbinar o motor — colocar um turbocompressor em um veículo que não tem previsão de turbo — não é permitido, garante o especialista. Da mesma forma, o xenon — tipo de lâmpada usada nos faróis — também não pode ser adicionado, a não ser que o veículo já tenha saído de fábrica com essa característica.