Acomodado em uma poltrona na instituição de longa permanência onde vive, Luiz Armando Mazzali se iluminou ao notar a presença da esposa no local. Sua dificuldade cognitiva não impediu que reconhecesse Isabel Lamp Mazzali ou celebrasse mais uma visita. Juntos há meio século, os dois se veem algumas vezes por semana desde março de 2023, quando o idoso de 84 anos passou a morar no Solar Anita Residencial Sênior, na zona norte de Porto Alegre.
Há alguns anos, Luiz teve um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou com diferentes sequelas físicas e cognitivas. Isabel adaptou a casa para recebê-lo e passou a dedicar seu tempo para tomar conta do marido e da mãe — que tinha 98 anos na época — com a ajuda de cuidadores. A ideia de procurar uma instituição de longa permanência partiu dos filhos do casal, que observaram o esgotamento de Isabel.
— Eu era encarregada de tudo. E isso foi durante seis anos, até que minha mãe faleceu e eu fiquei sozinha com ele, em uma casa enorme. Aí meus filhos disseram: “Mãe, agora chega. Tu estás cuidando do pai há tanto tempo, quem sabe vamos colocá-lo em uma clínica?” Porque eu estava me consumindo, estava indo embora antes deles. Mas é um sofrimento, uma dor que sentimos, eu sou casada com ele há 50 anos já — relata Isabel, 76 anos.
Sinais como os observados pelos filhos de Isabel e Luiz Armando podem ajudar as famílias a definirem o momento de buscar um residencial para seus idosos. No entanto, especialistas ressaltam que não existe uma receita de bolo. Cada situação é única, mas a tomada de decisão costuma ser muito difícil e, às vezes, gera sofrimento tanto para os familiares quanto para os idosos.
Necessidade de cuidados
Conforme os especialistas, um dos pontos principais a serem analisados para a tomada de decisão é a autonomia do idoso, ou seja, o quanto ele precisa de cuidados ou depende de outra pessoa para suas atividades diárias. Essas observações ajudam a definir se a contratação de um cuidador pode resolver ou se realmente há necessidade de optar por um residencial.
— Temos que ter muito cuidado e carinho na hora de apoiar a família para tomar essa decisão. Não existe um momento específico em que digamos que, a partir disso, não dá mais para levar. Precisamos entender quais são as necessidades daquela pessoa idosa: se precisa de cuidados 24 horas ou não, se precisa de ajuda para fazer todas as atividades básicas, como tomar banho, comer, ir ao banheiro — pondera Virgílio Olsen, chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Também é importante analisar se o idoso apresenta dificuldades físicas, cognitivas ou relacionadas à saúde mental, acrescenta a neuropsicóloga Lidiane Klein, que é doutora em ciências da reabilitação. A especialista cita como exemplo pessoas mais frágeis, que caem com frequência, ou que têm esquecimentos recorrentes, que podem colocá-las em risco.
— Dentro disso, temos que pensar na sobrecarga dos cuidadores, porque às vezes a família quer abraçar, quer cuidar. Mas chega um momento em que os familiares estão adoecendo, e aí precisa saber qual é esse limite. Com o idoso dentro de uma instituição, a família fica mais liberada e tranquila por saber que ele está bem, sendo cuidado com todos os recursos necessários — afirma Lidiane.
Culpa e julgamentos
De acordo com a neuropsicóloga, ao tomar a decisão, é comum que os familiares se sintam culpados, incapazes ou pensem que estão abandonando o idoso. Há, ainda, o julgamento de outros membros da família, que não concordam com a escolha por uma instituição de longa permanência.
— Às vezes, chega a um ponto em que a pessoa que cuida do idoso está no seu limite e essa acaba sendo a decisão mais acertada. É muito comum ver o estresse do cuidador. Então, a pessoa está sempre irritada, ansiosa, cansada, com problemas de sono, dores. E, ao delegar esse cuidado para uma instituição, tu passa a cuidar melhor de ti também — enfatiza Lidiane.
Como escolher a instituição
Diante da decisão, a família de Luiz precisou escolher a instituição adequada. Visitaram três e Isabel definiu sua preferida. A idosa comenta que a empatia dos funcionários e a limpeza do local foram pontos que chamaram a atenção logo no primeiro contato. Também destaca que as atividades desenvolvidas no residencial, como pet terapia, fisioterapia e música, ajudaram o marido a progredir nos últimos anos.
— No dia em que trouxemos ele, foi uma choradeira, porque parecia que estavam tirando um pedaço de mim. É muito dolorida essa separação. Nós sofremos, mas entendi que era bom para ele e para mim também. É bom para as duas pessoas, porque senão, tu não vive mais. É difícil, mas foi a melhor opção. E podemos vir na hora que quisermos, então estamos sempre aqui — aponta a idosa.
Olsen ressalta que existem opções de residenciais para todos os gostos e bolsos, mas recomenda que, sempre que possível, as famílias devem preferir instituições que tenham uma equipe de enfermagem disponível 24 horas por dia. O geriatra também considera fundamental observar o número de funcionários que atua no local, o tamanho da equipe que permanece durante a noite e a limpeza do ambiente.
— Deve-se observar o que tem de equipe multidisciplinar, o que já está composto dentro do pacote, se tem fisioterapia, se tem fonoaudióloga. Ver quais são os suportes, como faz para visitar. São coisas que vão aumentando a confiança dos familiares naquela instituição para que seja um local adequado e eles se sintam parte ainda da vida dessa pessoa idosa — esclarece o chefe do Serviço de Geriatria.
Conforme o especialista, as instituições de longa permanência atualmente são ambientes bem mais acolhedores e funcionam como uma extensão da casa dos idosos, onde eles conseguem ter qualidade de vida, diferentes atividades, sociabilização e convívio com os familiares.