
Uma ação proposta esta semana pelo Ministério Público gaúcho acende um sinal de alerta. Mais importante do que saber se a prefeitura de Porto Alegre será condenada pelos danos da enchente de maio de 2024 é responder a outra pergunta: quem coordena e lidera?
Quase um ano depois do desastre que destruiu cidades, ceifou vidas e mobilizou o país, seguimos discutindo de quem é a culpa. Importante. Mas mais urgente ainda é identificar quem deve coordenar as ações para que isso não se repita.
É natural — e saudável — que projetos tenham vários atores envolvidos, com capacidades diferentes e complementares. Mas, para dar certo, é preciso definir a liderança. Mais ainda quando tratamos de uma ameaça que, caso se concretize, exige resposta imediata. Em crises, centralizar é um dos fatores básicos de sucesso.
Quase um ano depois das enchentes, prefeituras, Estado e União, até onde se sabe, ainda não desenharam um organograma básico. Um retângulo no topo, com ramificações abaixo. Simples assim.
Temos movimentos importantes desde maio do ano passado: recuperação de diques, compra de radares meteorológicos, recuperação de pontes e de estradas, financiamentos para empresas atingidas, benefícios para pessoas que perderam suas casas. Poderia ser mais, mas está acontecendo. E isso merece aplauso.
O que se discute aqui não são as ações, mas a coordenação entre elas.
Talvez minha proposta soe ingênua, diante das dificuldades políticas de diálogo em tempos de radicalização. Mas o óbvio seria a realização de um seminário de trabalho entre governo federal, governo do Estado e prefeituras, com a presença de políticos e técnicos, para definir quem faz o quê na prevenção e quem responde em caso de necessidade.
Diante da força da enchente, os gaúchos reagiram com uma energia admirável. Mas resta uma pergunta: do ponto de vista do poder público, afinal de contas, quem manda no assunto?
A resposta, até agora, é inquietante: todo mundo — o que significa, no caso, ninguém.
Responsabilidade não se terceiriza. Liderança não se improvisa.