O PT erra todos os dias. Um tipo de erro estranho, porque não diz respeito a algo que o partido faça, mas sim ao silêncio. Apesar de todas as condenações, delações, provas e evidências, a sigla insiste em não fazer qualquer autocrítica séria em relação aos erros que cometeu no exercício do poder.
Em vez disso, se protege em uma bolha com paredes finas e impermeáveis, formadas por um discurso esquizofrênico. Ainda é predominante a tese de que tudo não passa de injustiça e golpe. Há sim componentes ideológicos e muita má vontade em relação ao PT, mas a prisão de Lula e a crise da esquerda são muito, muito mais do que isso.
Assim, imerso na sua própria fantasia, o partido que já representou a esperança da esquerda no mundo perde força e poder, muito além do que seria natural nessa cíclica oscilação do pêndulo da História. Ao agir assim, o PT contamina inclusive seus acertos nos 13 anos em que ficou no poder.
A tal ponto que Lula, ex-presidente encarcerado desde o ano passado, vem se afastando gradualmente do centro do debate nacional. Há líderes que, presos, ganham força. Lula perde, porque ele e o seu partido investem no discurso errado. Jair Bolsonaro corre sozinho. Não há quem aponte em outra direção com o mínimo de credibilidade e coerência.
Enquanto isso, Lula assiste, da cadeia, ao seu próprio ocaso, que não tem relação com a sua idade ou com o fato de estar preso. São as decisões erradas, as de antes e as de agora, que vão reduzindo a intensidade de uma luz que, de tão forte, acabou cegando.