A primeira vez que eu achei que o mundo iria acabar foi na China, em 2008. Estava em Beijing e me assustei com o padrão de consumo local. Shoppings, carros, um McDonalds a cada duas esquinas e na outra um KFCs. Multipliquei por um 1,2 bilhão de habitantes e a conta não fechou. Isso que nem somei a Índia.
Não há água, ar e terra que suportem essa pressão. É uma conta matemática, simples, óbvia. O resultado se confunde com ativismo da catástrofe.
E aí se perde.
Por um segundo, só por um segundo, esqueçamos esquerdas e direitas. Nosso modelo de desenvolvimento é insustentável. É suicida e só fazia algum sentido em escalas bem menores. Medir progresso com consumo é um jeito antigo e inviável de buscar o bem comum, na mais ingênua das interpretações.
Foi uma semana dura em Porto Alegre. Fiquei tentando lembrar se era assim. Se em tão pouco tempo a cidade já havia experimentado uma tempestade e uma chuvarada, coladas uma na outra. E mais a enchente do fim do ano. Fiquei com medo da resposta. Um amigo gaúcho que mora em Dubai – e está passando frio lá - disse tudo pelo Messenger: “Fodemos o planeta, brou”. E como.
Calma. Ainda não é preciso reservar lugar na arca. Mesmo assim, cada vez mais, tenho certeza de que os cabeludos doidos dos anos 60 estavam cobertos de razão, mesmo que nem se lembrem mais. Paz e amor. Só assim.
Estou entrando hoje em férias. Levo dois livros de papel – Stoner, de John Williams e Contos de Kolimá 1, de Varlam Chalámov – e mais dois no iPad – Sete Anos Bons, de Etgar Keret e Como Curar um Fanático, de Amós Oz. Certamente faltará tempo.
Só não poderá faltar tempo para levar minhas filhas na casa da bisavó delas, a minha avó. Ela tem 95 anos. Veraneia em Atlântida, no mesmo endereço, há mais de 50 anos, três reformas depois. Hoje, sua maior alegria é estar com a família. Não é esse um padrão de consumo invejável?