É mentira. Os ladrões têm medo sim. Vira e mexe ouço alguém dizer o contrário. Que os criminosos são desprovidos de qualquer sentimento, que para eles tanto faz viver ou morrer. Balela. Seres humanos, a não ser aqueles com diagnósticos bem definidos, temem algo ou alguma coisa, especialmente a morte.
O fenômeno da violência nas ruas das grandes cidades gaúchas comprova a minha tese. Assaltos cada vez mais ousados e ações que parecem deboche com a polícia. O mais recente foi esse arrastão de roubos a carro que terminou com um homem baleado no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre.
Nunca tinha visto alguma coisa parecida antes. Só aconteceu porque os bandidos tinham medo. E agora não têm mais. Eles sabem que a polícia anda desmotivada, mal equipada e sem homens em número suficiente para enfrentá-los. Nós, jornalistas, repetimos isso a cada instante, o governador sabe, o secretário de Segurança também, assim como os comandantes da Brigada e da Polícia Civil.
Os bandidos também sabem. Então vão roubando carros em série, sem qualquer temor de serem interceptados. E se forem, sabem que só ficarão algumas horas presos, talvez alguns dias. É possível que apareçam em uma foto na Zero Hora, que renda uma que outra manchete por aí. Mas é só uma questão de tempo – de pouco tempo – para estarem novamente pelas ruas. Não tem lugar no presídio. Na verdade, nem presídio tem.
Já deve ter acontecido: na hora do flagrante, criminoso e o policial se chamam pelos nomes. “De novo?”. Sim, de novo e até daqui a pouco.
A violência só aumenta justamente porque os bandidos têm medo. Mas, cada vez menos, da polícia e da lei. Devem ter medo dos seus chefes, dos rivais da outra gangue, talvez do mosquito da dengue. E não adianta entrar atirando na vila. Porque aí, em vez de medo, o sentimento muda: vira raiva. É assim que todos acabam pagando a conta.