
O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Anunciada na última semana, a troca da gestão dos hospitais de Porto Alegre da prefeitura para o governo do Estado terá um longo caminho até ser destravada. Nesta quarta-feira (23), o prefeito Sebastião Melo afirmou que ainda não há proposta formalizada pelo Piratini e subiu o tom com o governador Eduardo Leite.
Durante entrevista coletiva à imprensa na Federasul, antes de mais uma edição do Tá Na Mesa, Melo cobrou demonstrações de competência por parte do governo do Estado, a quem se referiu como um mau gestor de hospitais.
— Eu não vou prejudicar a população de Porto Alegre e da Região Metropolitana de jeito nenhum. Se o governador está dizendo que vai acabar com as filas sendo gestor, eu topo, mas ele tem que mostrar que vai acabar com as filas. E se não for para fazer a entrega total da média e alta complexidade, não se prosseguem as reuniões.
Melo ainda se referiu à entrevista de Eduardo Leite para a Rádio Gaúcha na última sexta-feira (18), em que o governador disse que Porto Alegre tem apenas uma UPA habilitada no Ministério da Saúde. Segundo Leite, a Capital tem outros três serviços de pronto atendimento não classificados como UPA no governo federal, o que faz com que a prefeitura deixe de receber R$ 1,5 milhão por mês na saúde.
O prefeito rebateu a informação, afirmando que o recurso federal é importante, mas não paga o custo das UPAs. Ele citou como exemplo a unidade da Lomba do Pinheiro, que precisa de R$ 2,5 milhões mensais para funcionar — sendo que o auxílio da União cobriria pouco mais de um quinto deste montante.
Além disso, Melo reforçou que o problema da crise da saúde não está na assistência básica, e sim nos pacientes de outros municípios que lotam os hospitais da Capital.
— Mais UPAs não vai resolver. O que está em pauta é o paciente que vem de todos os lugares do mundo e cai em Porto Alegre, e nós não temos dinheiro para pagar. Nós não temos problema de gestão. O nosso problema é dinheiro. Eu não tenho hoje mais leitos, então não adianta dizer "eu vou botar mais dinheiro em Porto Alegre". Tem que arranjar a Região Metropolitana. Se você não tiver leitos aqui, ou em outras regiões, você não vai resolver o sistema.
No final da tarde desta quarta-feira, está prevista uma reunião entre os secretários da saúde da Capital, Fernando Ritter, e do Estado, Arita Bergmann. A expectativa da prefeitura é que o Piratini apresente os detalhes da proposta de assumir a gestão da contratualização dos hospitais para a média e alta complexidade.
Programa Assistir
Pela manhã, uma audiência pública na Assembleia Legislativa debateu o programa Assistir, da Secretaria Estadual da Saúde (SES). O encontro foi articulado pelos deputados Miguel Rossetto (PT) e Patricia Alba (MDB). Os parlamentares entendem que o repasse dos recursos é desigual em relação à quantidade de atendimentos prestados por hospital, gerando falta de recursos para algumas instituições e sobrecarga.
Sebastião Melo entende que o sistema na Região Metropolitana está desarranjado, e por isso acatou a ideia de transferir a gestão dos atendimentos hospitalares para o Estado. Na audiência, o discurso foi o mesmo feito na Federasul, com cobranças por reequilíbrio financeiro e corresponsabilidade.
O governo do Estado, na mesma reunião que anunciou a intenção de assumir a gestão da média e alta complexidade de Porto Alegre, confirmou a destinação de mais R$ 39 milhões para o programa Assistir. O valor seria destinado para 28 instituições de 20 cidades da Região Metropolitana.