
Não é de hoje que qualquer pessoa com dois neurônios desconfia da existência de uma quadrilha dentro do INSS. Porque não pode ser normal que uma pessoa encaminhe o pedido de aposentadoria e fique sabendo que está aposentado pelos telefonemas de funcionários de instituições financeiras oferecendo empréstimos. Dados que deveriam ficar sob proteção do INSS são repassados a terceiros sem nenhum pudor.
O que a Controladoria-Geral da União e a Polícia Federal descobriram é muito mais grave do que fornecer os dados pessoais de aposentados e pensionistas. É o pior escândalo do terceiro mandato do presidente Lula. Roubo escancarado de velhinhos e velhinhas. São sindicatos e associações roubando de pobres, com o consentimento do INSS, o envolvimento de funcionários de carreira e de gente graduada que pecou por ação ou omissão.
Trata-se de um crime que segundo a apuração chega a R$ 6,3 bilhões de 2019 até agora. Coisa antiga, que cresceu e se multiplicou com a troca de governo. Lula fez o certo ao demitir o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, mas será difícil manter o ministro da Previdência, Carlos Lupi, que bancou a indicação de um incompetente que fez o INSS regredir em matéria de atendimentos e agora é suspeito de conivência com a fraude.
Diga-se em favor de Lula que a investigação foi iniciativa do seu governo — da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal. Isso não elimina o fato de que em dois anos aposentados e pensionistas seguiram sendo achacados por associações e sindicatos que sustentam uma casta de aproveitadores.
O INSS com sua ineficiência é uma das razões da desaprovação do governo, seja pela demora na análise dos pedidos de aposentadoria, seja pelas filas na perícia para a concessão de auxílio-doença, seja pelas greves frequentes que reduzem a produtividade. A falta de gestão era visível a olho nu. A exploração de segurados vinha sendo denunciada a conta-gotas pelos prejudicados, que não conseguiam reaver o dinheiro descontado sem autorização para entidades com as quais não tinham qualquer vínculo.