A Polícia Civil está investigando as circunstâncias da morte de uma recém-nascida no Vale do Sinos. O caso aconteceu após a mãe ter o parto cesárea negado por quatro vezes no Hospital Centenário, em São Leopoldo. O inquérito foi instaurado nesta quarta-feira (23). A criança morreu no dia 6 de abril.
Seguindo indicações do médico que realizou o pré-natal, a moradora de Portão, Cláudia Raquel de Siqueira Soares, 33 anos, buscou por atendimento pela primeira vez ao completar 39 semanas de gestação.
Mesmo com uma gravidez saudável, Cláudia possuía orientação do médico do posto para que ganhasse a filha Heloísa a partir de cesárea. Conforme anotado na caderneta da gestante, a orientação se baseia devido à altura da mulher, que mede 1m43cm.
Segundo o relato, na primeira vez em que buscou atendimento ela estava sem dores e com isso, foi examinada e liberada. A indicação é para que ela retornasse ao Hospital Centenário quando completasse 40 semanas de gestação.

A gestante retornou outras três vezes à instituição. Durante todos os atendimentos, por não possuir dilatação, ela recebeu medicação e foi liberada.
— Eu implorei para fazerem a cesárea, mas os médicos diziam que eu não tinha dilatação. Diziam que não podiam me baixar no hospital. Na última vez, depois de uma troca de plantão, o médico me disse que não fizeram a cirurgia por má vontade, mas que ele não iria conseguir realizar porque havia muitas emergências — contou Cláudia.
No dia 6 de abril, a mulher notou algo diferente: a bebê não mexia mais em sua barriga. Ela e o marido buscaram atendimento no Hospital Getúlio Vargas, em Sapucaia do Sul. Na instituição, uma cesárea de urgência foi realizada, no entanto, a menina já estava morta.
— Fizeram a cirurgia para me salvar, porque minha filha já estava morta. Quando eles tiraram ela eu vi que não chorou. Eu perguntei para o anestesista como estava minha filha e ele disse que estavam tentando, que era para ter fé. A médica dizia que tinha que me salvar — contou.
Ainda segundo Cláudia, após a cesárea uma médica relatou que Heloísa havia "passado da hora" e ingerido a água do parto.
— Todos os médicos que me atenderam no Centenário me negaram a cesárea, algo que é direito da mulher. Falaram que não tinha essa história de altura interferir no parto. Mas, agora eu estou aqui sem minha filha. Toda espera, tudo pronto para receber ela, o sonho do meu filho de ter uma irmã, tudo foi destruído. Eu só quero por justiça — contou emocionada.
Segundo o delegado responsável pelo caso, André Serrão, a Polícia Civil investiga se houve negligência durante os atendimentos no Centenário, o que resultou na morte da criança. Os pais devem ser chamados para depor ainda nesta semana.
Procurado, o Hospital Centenário informou que não teve registro por parte da família na ouvidoria e que não recebeu ainda a demanda da polícia. Ainda conforme à instituição, a paciente foi atendida, avaliada, realizou exames e evoluiu em condições de alta em todos os momentos.
O Hospital Getúlio Vargas, de Sapucaia do Sul, confirmou que Cláudia passou por uma cesárea de urgência e que "infelizmente, o bebê não estava mais vivo".
Leia a nota do Hospital Centenário na íntegra:
"O caso não teve registro realizado pela família dentro do Hospital Centenário e o Hospital também não recebeu demanda da Polícia Civil. Segundo dados do sistema interno da instituição - alimentado por profissionais técnicos de saúde - a paciente foi atendida, avaliada, realizou exames de imagens e evoluiu em condições de alta em todos os momentos os momentos que esteve no hospital."