
Quantas pessoas terão de morrer em acidentes para que o governo eleve a duplicação da BR-290 à condição de prioridade de fato? Quando a então presidente Dilma Rousseff decidiu duplicar a BR-290 no trecho entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, em 2014, a rodovia já estava com sua capacidade esgotada. Dilma, por ter vivido a maior parte de sua vida no Rio Grande do Sul, entendeu como nenhum outro presidente a importância dessa obra que tem até uma Frente Parlamentar em sua defesa.
A Frente Parlamentar não trabalha apenas pela duplicação desse trecho, o mais movimentado, mas de toda a rodovia, até Uruguaiana. É a Rodovia do Mercosul, que só tem pista simples no Rio Grande do Sul.
Dilma fez a licitação e assinou o contrato com quatro empreiteiras para executar a obra. No primeiro ano, destinou R$ 80,6 milhões. No segundo, R$ 5,44 milhões. As obras foram iniciadas com a construção de viadutos. Apenas um ficou pronto (no entroncamento com a rodovia que liga a BR-290 a Charqueadas e São Jerônimo. Os outros esqueletos remanescem como um monumento à incompetência e ao descaso com os usuários.
Em 2016 veio o impeachment e o então presidente Michel Temer não destinou um centavo para a rodovia. As empreiteiras fecharam os canteiros e demitiram os operários ou levaram para outras obras. Em 2017, o mesmo Temer destinou R$ 5 milhões para a rodovia. Em 2018, apenas R$ 1,2 milhão.
Nos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro a duplicação emperrou. Veio o governo Lula e a obra foi retomada pelos lotes 3 e 4 (entre Butiá e Pantano Grande), com a destinação de R$ 178,3 milhões. Parecia que, finalmente, o trecho inteiro seria duplicado, mas os lotes 1 e 2 seguem 100% parados, enquanto o DNIT decide se valem os contratos anteriores ou se será necessária uma nova licitação.
Mais de dois anos para deslindar o imbróglio jurídico é inaceitável. Se os contratos antigos não podem ser aproveitados, que se faça uma nova licitação.
Em 2024, Lula prometeu numa entrevista à Rádio Gaúcha entregar todo o trecho duplicado até o final do seu governo:
— Nós vamos fazer. Eu quero que você ouça bem, Rosane. Estou olhando nos teus olhos. Pode ficar certa que antes de eu deixar a presidência, dia 31 de dezembro de 2026, nós vamos inaugurar essa rodovia. Você pode ficar certa. Nós vamos inaugurar — disse o presidente.
Não conseguirá. Mesmo que se decida hoje por uma nova licitação para os dois lotes que estão parados, não há tempo hábil para entregar a rodovia duplicada até o final de 2026, nem dinheiro no orçamento para tocar a obra em ritmo japonês.