
Não se assuste quando você ouvir vozes de mulheres conhecidas dizendo em um vídeo que foram agredidas por maridos, namorados, companheiros. Essas mulheres estão apenas emprestando sua voz a vítimas da violência doméstica em uma campanha mais do que oportuna que será lançada nesta sexta-feira (7), às 9h, pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul.
Idealizada e produzida pelo Gabinete de Comunicação do MPRS, em conjunto com o Centro de Apoio Operacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, “Eu falo por elas” tem por objetivo provocar uma reflexão sobre a violência de gênero e ajudar mulheres vítimas da violência a se libertarem de relações abusivas.
A jornalista Roberta Salinet, coordenadora do projeto, explica que foram escolhidas personalidades femininas (jornalistas, influenciadoras e empresárias ) para emprestar sua força e sua voz para ler relatos reais de mulheres que sofreram violência, ecoando suas histórias e rompendo o ciclo do silêncio. Alguns exemplos de trechos de depoimentos reais de mulheres que sofreram violência de gênero:
“Uma madrugada eu acordei sendo sacudida pelos braços, berrando que eu tinha traído ele, me apertou e deixou roxa. Ele tinha sonhado isso. As humilhações eram diárias.”
“Ele me deu socos, cabeçadas, eu caí, ele me chutou. O tapete, as paredes, ficou tudo sujo de sangue. Eu não tenho ideia de quanto tempo durou isso, só pensei: vou morrer longe do meu filho.”
“Nós já estamos divorciados, mas ele não me deixa em paz. Me sinto presa numa história que já terminou, mas ele acha que é meu dono. Eu preciso seguir com a minha vida, mas tenho medo. Não posso morrer e deixar a minha filha nas mãos desse homem.”
De acordo com o Mapa do Feminicídio, produzido pela Polícia Civil, em 2024 foram registrados 72 casos no Estado. Em 2023, haviam sido 85 feminicídios. Em 2022, foram 111 vítimas. Em 84,7% dos casos, o autor foi o companheiro ou ex-companheiro da vítima.
A campanha "Eu Falo por Elas" tem como subtítulo “Unindo vozes contra a violência de gênero”. De acordo com a promotora de Justiça Ivana Battaglin, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, quando uma mulher se encontra aprisionada numa relação abusiva, tem muita dificuldade de falar a respeito, de pedir ajuda:
— Mesmo quando elas falam, nem sempre são ouvidas. A campanha, que traz histórias reais de mulheres que foram vítimas das mais variadas formas de violência, busca dar visibilidade a esse fenômeno, assim como incentivar as mulheres a denunciarem e a sociedade a não se calar diante da barbárie. O Ministério Público é a voz das vítimas.
Roberta complementa:
— O silêncio nunca pode ser a única resposta. A cada dia, inúmeras mulheres enfrentam a violência dentro de seus próprios lares, vítimas de agressões físicas, psicológicas, sexuais e patrimoniais. Muitas não conseguem ou têm medo de denunciar. Mas nós podemos e devemos falar por elas, esse o papel da comunicação pública. Com a campanha, o Gabinete de Comunicação Social do MPRS dá ainda mais visibilidade à atuação institucional para este, que é um dos principais temas estratégicos do Ministério Público.
Participam da campanha, as jornalistas, empresárias e influenciadoras digitais Patrícia Parenza, Patrícia Pontalti, Bruna Colossi, Xuxa Pires, Deise Nunes, Valéria Barcellos e Tathiane Araújo.
No lançamento da campanha, no Memorial do Ministério Público, na Praça da Matriz, será inaugurado o Banco Vermelho do Ministério Público, pintado por mulheres profissionais de diversas áreas. A iniciativa dos bancos vermelhos surgiu na Itália, espalhando-se por diversos países. Recentemente, uma lei federal veio dispor sobre a sua utilização também no Brasil.
— O MP do Rio Grande do Sul adere à campanha e o banco itinerante será exposto em diversos prédios da instituição, em local de acesso ao público, para que todos sejam convidados não só a sentar, mas a refletir e colaborar na causa do enfrentamento à violência contra a mulher — explica a promotora Ivana Bataglin.
Exposição
Ao final do evento, os participantes serão convidados a prestigiar, no Memorial do Ministério Público, a exposição “Meu bem, meu mal – 10 anos de arte sobre violência doméstica”, da artista visual gaúcha Graça Craidy.