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O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Ganhou novo capítulo a disputa interna na bancada do Republicanos da Assembleia Legislativa. Uma carta escrita pelo presidente estadual do partido, o secretário da Habitação Carlos Gomes, endereçada ao presidente da Casa, Pepe Vargas (PT), adiou novamente a votação para definir a presidência do parlamento gaúcho em 2026.
No documento, Gomes diz que está mantida, por parte do partido, a indicação do deputado Sergio Peres para o cargo. Argumenta que o nome cumpre ata firmada pelo partido. Em 2023, no início da atual legislatura, Peres foi eleito internamente para ser o presidente da Assembleia em 2026, segundo o secretário.
"Reiteramos nosso compromisso com o diálogo, a transparência e o respeito aos acordos firmados, confiando na tradição desta Casa de zelar pelos entendimentos políticos que garantem a estabilidade e o bom funcionamento do Legislativo", diz o presidente estadual do partido, na carta (leia a íntegra no final do texto).
O líder da bancada do Republicanos, deputado Gustavo Victorino, contraria Gomes e afirma que a indicação da presidência cabe à bancada, e não à direção do partido. Victorino afirma que vai levar o assunto para o colégio de líderes, para garantir um posicionamento oficial da Assembleia, que deve dar ganho a sua causa.
Victorino, inclusive é quem articula uma revisão da indicação de Peres, acompanhado dos colegas Delegado Zucco e Capitão Martim. O deputado argumenta estar mais experiente sobre os meandros da Assembleia, e reclama da falta de interlocução com a direção partidária. Há também uma insatisfação em relação a distribuição de cargos entre os parlamentares do Republicanos.
— Informalmente, os líderes já disseram que isso é de economia interna da bancada. O presidente (do Republicanos) mandou carta para o comando da Assembleia sem nos consultar. Não concordamos, queremos rediscutir. Não é apenas a presidência, mas todos os cargos ocupados pelo partido. Entendemos que a distribuição de cargos não foi adequada — argumenta Victorino.
Na reunião da bancada desta terça-feira (25) seria convocada uma nova votação interna para escolher o futuro presidente da Assembleia, mas a carta enviada pelo presidente estadual levou os parlamentares a optarem por novo adiamento da decisão. Nem Sergio Peres nem Eliana Bayer, também deputada pelo Republicanos, participaram do encontro.
— O teor da carta era de que estava mantido o nome do Sergio Peres para 2026, cumprindo uma ata, coisa e tal, só que a ata que foi encaminhada era apenas de concordância com o acordo dos partidos, que não tem nome nenhum — rebate o líder da bancada.
O acordo ao qual se refere Victorino é o que prevê um rodízio na presidência, firmado entre os partidos com maior número de cadeiras: começou com MDB, seguiu com PP, está com o PT e se encerrará em 2026 com o Republicanos.
O diretório estadual do partido tem, além de Carlos Gomes na presidência, Sergio Peres como vice-presidente, da ala ligada aos evangélicos, assim como Eliana Bayer. Já Victorino representa o grupo mais conservador, junto com Zucco e Martim.
À coluna, Carlos Gomes reforçou que todos os membros da bancada concordaram com a indicação de Peres para a presidência, e enviou o ofício a Pepe Vargas não para falar em nome da bancada, mas para reforçar o acordo firmado em 2023.
— Não se muda a regra com 75% do acordo cumprido. Victorino é líder da bancada pelo mesmo acordo que Sergio Peres foi definido como presidente. Se tem algum descontentamento com alguma repartição interna, tenho que sentar contigo e dizer "olha, temos que mudar o procedimento", mas não mudar a regra do acordo. É legítimo, as pessoas ficam descontentes, mas é melhor sentar internamente, organizar e bola pra frente — disse o presidente estadual do Republicanos.
Após o Carnaval, Gomes pretende realizar uma reunião interna com os parlamentares para alinhar acordos e desejos de cada um.