Mesmo com número recorde de ministérios, o presidente Lula terá dificuldade para saciar o apetite dos partidos aliados na reforma que se avizinha. Pelos nomes especulados até agora, não será uma mudança para melhorar o desempenho do governo, mas para acomodar figurões como Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que terão de retornar à planície ao término dos seus mandatos como presidentes da Câmara e do Senado, agora no início de fevereiro.
O presidente terá de fazer uma reforma que lhe dê alguma espécie de seguro anti-impeachment, já que aprendeu com a destituição de Dilma Rousseff que é fácil achar um pretexto para o afastamento quando a figura do presidente está fragilizada.
Lula está acorrentado ao centrão desde a formação do primeiro governo porque precisa de votos no Congresso. Votos que nem sempre tem, porque a base é gelatinosa e faz chantagem com emendas e cargos. Mesmo assim, conseguiu aprovar uma reforma tributária que era defendida desde o século passado e, finalmente, saiu. Nasceu cheia de deformidades, pelas mudanças que sofreu na Câmara e o Senado, com os penduricalhos que beneficiam setores de interesse dos parlamentares, mas nasceu.
Para os dois anos que restam do seu mandato, Lula precisa garantir boas relações com os futuros presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), acomodar Lira e Pacheco, e encontrar um substituto para o ministro da Defesa, José Múcio, que pediu para sair. Não pode ser qualquer um. O nome precisa ter aprovação das Forças Armadas, que não gostariam de um político no cargo.
A gincana ainda tem outras tarefas que Lula precisa cumprir: acalmar o PT, acomodando a quase ex-presidente Gleisi Hoffmann, figura altamente controversa e por isso rejeitada, encontrar uma função para Geraldo Alckmin, se tiver de entregar o Ministério do Desenvolvimento na bandeja do centrão, e montar uma base partidária capaz de dar suporte à reeleição ou apoiar o candidato que ele escolher.
Alckmin é um dos melhores ministros em matéria de entregas. Tem o apoio do empresariado, defende o governo com mais convicção do que os petistas e não costuma criar problemas. Mas seu ministério é cobiçado e ele já mostrou que não tem perfil para ser um vice decorativo.
Aliás, Lula deveria extinguir um desses ministérios inúteis, que em dois anos não disseram a que vieram, e criar outro, informal, que todo governo precisaria ter. Seria o MVE - Ministério do Vai dar Errado. Um ministro cuja função seja apontar as bombas que estão sendo armadas nas outras pastas e desarmá-las antes que explodam, como ocorreu com a crise do Pix.