Dois anos se passaram desde aquela tarde de domingo em que uma horda teleguiada por golpistas de farda ou de paletó invadiu a Praça dos Três Poderes e saiu quebrando o que encontrou pela frente no Palácio do Planalto e nos prédios do Supremo Tribunal Federal e do Congresso. Vestidos de verde e amarelo, viajaram de diferentes pontos do Brasil, com despesas pagas por golpistas “com contrato, com gravata e capital”.
Os idealizadores do caos, que imaginavam usar a Constituição para justificar uma intervenção militar e derrubar o governo recém-empossado, não foram para a linha de frente. Ficaram no conforto do ar-condicionado esperando que as instituições desabassem e fosse preciso invocar o artigo 142 (forçando uma interpretação que não está no texto) para garantir a lei e a ordem. Se tivesse dado certo, diriam que tudo ocorreu “dentro das quatro linhas”.
As forças de segurança do Distrito Federal entraram atrasadas na contenção dos vândalos, desmobilizadas pelo então secretário Anderson Torres, que viajara para os Estados Unidos, seguindo os passos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A democracia resistiu, a vida seguiu seu curso e a Polícia Federal passou a montar o quebra-cabeça que só foi concluído em 2024. Só então se soube como nasceu o quebra-quebra de 8 de janeiro, último ato de um delírio que incluiu os acampamentos nos quartéis para protestar contra a vitória de Lula.
A investigação que levou o general Braga Netto para a cadeia às vésperas do Natal ainda deve ganhar alguns capítulos, já que a Polícia Federal vai produzir relatórios complementares com os elementos descobertos após o indiciamento de 37 pessoas. Desfecho mesmo só quanto todos forem julgados. Parte dos que protagonizaram o quebra-quebra já cumpre pena, mas os que planejaram a financiaram a aventura ainda terão de acertar as contas com a Justiça.
A boa notícia, dois anos depois, é que 86% dos brasileiros repudiam os ataques de 8 de janeiro. A reprovação, segundo pesquisa Quaest, ocorre em todas as faixas de renda, escolaridade, idade e regiões do país. Há uma minoria que ainda repete narrativas sem pé nem cabeça, como a de que os ingênuos invasores foram induzidos a invadir a Praça dos Três Poderes ou que quem promoveu o quebra-quebra eram esquerdistas infiltrados, vestidos com as cores da bandeira. Não eram – e ainda fizeram questão de postar imagens nas redes sociais, certos que haviam vencido a batalha e garantido a impunidade.
ALIÁS
O apoio à democracia não pode ser medido pela adesão ao ato organizado pelo governo. O Legislativo e o Judiciário estão em recesso, parte dos governadores viajou em férias e mesmo parlamentares que repudiam o que ocorreu em 8 de janeiro de 2023 não querem aparecer na foto ao lado de Lula e dos seus ministros.