Hoje eu pretendia falar dos 60 anos de Zero Hora, completados no sábado, e dos quais participo há 32. Mas não dá para falar de festa e adiamos as comemorações. Faz uma semana que vivemos aos sobressaltos, chocados com as imagens de devastação do Rio Grande do Sul. Mais da metade dos municípios foi diretamente afetada, mas se considerarmos que em cada cidade existe alguém com um parente nas áreas alagadas é legítimo afirmar que todo o Estado foi abalado pelo maior desastre climático da história.
De forma correta, a Defesa Civil estadual e as prefeituras deram prioridade ao resgate das pessoas ilhadas e ao acolhimento dos que tiveram de sair de casa. As Forças Armadas estão desde o primeiro dia colaborando para minimizar os efeitos da catástrofe. O presidente da República vem ao Estado pela segunda vez em uma semana, à frente de um grupo que inclui seus principais ministros (outros já estavam em Porto Alegre) e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, e do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas.
O poder que se concentra em Brasília precisa saber o que está passando para facilitar a liberação de recursos. O Rio Grande tem pressa porque quem está desabrigado precisa agora de água, comida, roupas, colchões, travesseiros. Depois vai precisar reconstruir as casas (em lugar seguro) e recuperar os móveis e eletrodomésticos que a água levou.
Nesta hora, toda a solidariedade é bem-vinda e os voluntários estão sendo fundamentais no resgate de pessoas e na atenção a quem está nos abrigos. Donos de barcos, jipeiros, proprietários de helicópteros entraram em campo para salvar vidas ao lado da força pública. Essa generosidade conforta em um momento de tantos pedidos de socorro.
A mesma corrente que se formou em setembro para ajudar o Vale do Taquari terá de multiplicar seus elos agora para ajudar quem precisa. Porque agora é um desastre espalhado por quase todas as regiões do Estado.
O poder público terá de dar prioridade à recuperação de pontes e estradas estaduais e federais que deixam milhares de pessoas isoladas em suas cidades, sem acesso a centros médicos e com risco de desabastecimento de remédios, comida e água.
A enchente também mostrou o lado perverso de pessoas egoístas que não querem ajudar alegando que pagam impostos e que socorrer os desalojados é dever do governo. São pessoas incapazes de um gesto de generosidade, que devem ser desconsideradas por quem compreende a importância de dar a mão numa hora difícil como essa. Estamos a salvo de terremotos e furacões, mas o que estamos vivendo tem a dimensão desses fenômenos que conhecemos de outros países.