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Desde volta das eleições diretas para governador, em 1982, o Rio Grande do Sul nunca chegou tão perto das convenções com o cenário indefinido como está agora. Em 21 dias, os partidos começam a indicar formalmente seus candidatos, mas as alianças ainda dependem de complexas negociações na esquerda, no centro e na direita. Nessa série de equações que irão resultar na formação das chapas para governador e senador, um dos pontos que pode ser decisivo é o posicionamento das direções nacionais das legendas, ainda que decisões de cima para baixo nem sempre sejam respeitadas.
O caso da direção nacional do MDB, que nesta quarta-feira (29) aprovou a aliança com PSDB e Cidadania no Rio Grande do Sul, é exemplar: em vez de representar apoio à reeleição de Eduardo Leite (PSDB), deflagrou uma série de manifestações contrárias na base e entre os líderes, que não aceitam imposição da cúpula. Assim que soube da decisão, o presidente estadual do MDB, Fábio Branco, escreveu em seu perfil no Twitter:
"Respeito o @MDB_Nacional, mas a decisão sobre as eleições no Rio Grande do Sul será do @mdbrs15, como sempre foi. Reafirmo a candidatura própria ao governo do Estado. Vou convocar a Executiva para acionar nossas instâncias partidárias e deliberar o assunto".
Na semana passada, os tucanos convidaram formalmente o MDB para integrar a chapa. Mas, até o momento, se depender dos caciques emedebistas no Rio Grande do Sul, a tendência é de seja mantida a candidatura própria do deputado estadual Gabriel Souza. O ex-governador José Ivo Sartori e o ex-senador Pedro Simon, líderes históricos do MDB, publicaram mensagens reforçando a posição.
O diretório nacional aprovou a aliança com Leite, mas não deixou claro se fará o que o MDB gaúcho mais teme: cortar os recursos do fundo eleitoral para a campanha de governador, se o partido insistir na candidatura própria. Líderes do partido acreditam que o presidente Baleia Rossi não faria isso, mas reconhecem que, sem dinheiro do diretório nacional, a candidatura naufraga, já que Gabriel precisa se tornar conhecido, os empresários resistem em doar dinheiro como pessoas físicas e as pesquisas favorecem os adversários.
Namorado por quase todos os pré-candidatos, o União Brasil também depende da decisão nacional do partido para definir os próximos passos. Como integrou e ainda está na base do governo Leite/Ranolfo, o partido tende a permanecer ao lado do tucano, indicando Luiz Carlos Busato como vice. Mas não há garantia.
Na sexta-feira (1º), o presidente nacional do UB, Luciano Bivar, vem a Porto Alegre para conversar com a executiva estadual. A expectativa é de que Bivar libere a legenda para se unir ao PSDB. No início de junho, o cacique do UB afirmou que o partido não faria aliança com tucanos nos Estados. O UB também é abordado para possível aliança por PDT, PSB, MDB, PP e PL.
Na direita, as candidaturas bolsonaristas de Luis Carlos Heinze (PP) e Onyx Lorenzoni (PL) estão colocadas há meses e não existem sinais públicos de que um ou outro possa desistir. No entanto, pessoas próximas a Onyx mantêm a esperança de contar com o apoio do PP. A conversa entre aliados do ex-ministro é de que a candidatura de Heinze não decolou e vai mal nas pesquisas, apesar da capilaridade do PP e das incursões do senador pelo Interior do Estado. O PP, no entanto, considera crucial manter a candidaturas de Heinze para puxar os deputados e dar visibilidade ao número 11. Um dos líderes do partido diz que não dá para "entregar o jogo no primeiro tempo" e que nada garante a presença de Onyx no segundo turno.
No campo da esquerda, o cenário é mais nebuloso. Apesar do chamado do ex-presidente e pré-candidato ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva para que a esquerda se una no Estado, o PT estadual refuta a possibilidade de abrir mão da cabeça de chapa com o deputado Edegar Pretto. Pelo PSB, o ex-deputado Beto Albuquerque diz que recebeu o aval da direção nacional do partido para concorrer a governador e procurar outros aliados, se o PT insistir em encabeçar a chapa. Já o PSOL pretende manter o vereador Pedro Ruas na disputa como forma de alavancar a eleição de deputados.
A avaliação de petistas é de que só uma sinalização nacional do PSB poderia demover Beto da candidatura. Como não deverá ter Manuela D´Ávila, que já comunicou a Pretto que não será candidata ao Senado, o PT sonha em ter Beto na disputa ao cargo. Beto diz que só concorre se for a governador.
O PDT do ex-deputado Vieira da Cunha tem várias cartas na mesa, e só não abre mão em nenhuma hipótese de oferecer palanque regional para o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes. O partido dialoga com o MDB e com o PSB, mas novamente surge o impasse pela exigência da cabeça de chapa. Por isso, o PDT cogita o lançamento de uma chapa puro-sangue na tentativa de eleger maior número de deputados.
Sem candidato ao Piratini e ao Planalto, o PSD também é cortejado por diferentes candidatos. Seu principal ativo é a ex-senadora Ana Amélia Lemos, que tanto poderá integrar a chapa de Eduardo Leite quanto a de Gabriel Souza, se o MDB levar a candidatura até o fim. O Podemos, do senador Lasier Martins, tende a se aliar ao PSDB, mas ainda não está 100% fechado.