
Ao primeiro olhar, a reforma do secretariado do governador Eduardo Leite, que ainda não está completa, é uma troca de seis por meia dúzia. Ou uma forma de acomodar os prefeitos do PSDB que terminaram os mandatos em 1º de janeiro. Um segundo olhar, pouco mais aprofundado, permite concluir que há uma arquitetura partidária nas mudanças e que ela se relaciona com a eleição de 2026.
Pegue-se a troca de Clair Kuhn por Edivilson Brum na Secretaria da Agricultura. São ambos do MDB e têm o mesmo conhecimento do setor. O que difere Brum de Kuhn? O novo titular da Agricultura tem mais votos — o anterior é suplente. No MDB, como em qualquer partido, voto é credencial.
Mas há um detalhe que não pode ser ignorado. Ao puxar Brum para o secretariado, como pretendia ter feito há um ano, quando Giovani Feltes deixou a Secretaria da Agricultura, Leite faz um agrado ao ex-senador Pedro Simon, garantindo uma cadeira ao filho Tiago Simon, terceiro suplente da bancada.
Há um ano, Edivilson não quis assumir a Agricultura, porque o combinado era Feltes voltar se não se elegesse. Sem mandato, Clair Kuhn — então diretor-geral — era o nome perfeito. Como se elegeu, Clair ganhou uma sobrevida até que Leite costurasse a reorganização do secretariado de forma a unir o MDB, que se dividiu na eleição de 2022.
No horizonte está a candidatura de Gabriel Souza, preferido de Leite para a sucessão. Ao puxar Brum para o secretariado e colocar Tiago Simon na Assembleia, o governo isola o deputado Alceu Moreira, hoje o principal adversário de Gabriel. Osmar Terra não conta, porque já está com os dois pés no PL.
Leite fez o mesmo com o PP, que está de casamento marcado com o União Brasil. Puxou Marcelo Caumo, competente ex-prefeito de Lajeado, para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano. E chamou o ex-prefeito de Dom Pedrito, Mário Augusto Gonçalves, para ser adjunto de Ciência e Tecnologia.
Enquanto negocia uma possível fusão do PSDB com o Podemos (ou o Republicanos), Leite tratou de garantir que dois ex-prefeitos tucanos não ficassem ao relento. Paula Mascarenhas, de Pelotas, foi chamada logo no início de janeiro para cuidar das Relações Institucionais e agora ganhou status de secretária. Ela foi vice de Leite em Pelotas e depois candidata da situação. Duas vezes prefeita, é uma das pessoas em quem o governador mais confia. Comanda o PSDB e deve acompanhar Leite para onde ele for.
Jorge Pozzobom, ex-prefeito de Santa Maria, assume a Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo, até então sob comando de outro tucano, o ex-deputado Luiz Henrique Viana. É uma secretaria que precisa de gestão e Pozzobom, prefeito por oito anos, tem a experiência administrativa que falta a Viana. Mais do que isso, tem votos e é uma das apostas do PSDB (ou do que resultar da fusão ou incorporação para 2026).
Especula-se que o deputado Thiago Duarte (União Brasil) será chamado a substituir Fabrício Perucchin na Secretaria da Justiça. Perucchin é advogado criminalista. Doutor Thiago é médico. Aqui a diferença não é só que ele tem mais votos, mas o que justifica a indicação pelo partido é o trânsito na periferia, a experiência como médico e o foco nas questões ligadas à Secretaria da Justiça.
O chefe da Casa Civil, Artur Lemos, garante, no entanto, que “não houve formalização do pedido nem conversa a respeito”.
A possível indicação do deputado Eduardo Loureiro (PDT) também se insere dentro da lógica partidária. Interessa a Leite e a Gabriel puxar o PDT para o seu lado. Loureiro já foi convidado para o secretariado, mas recusou. Agora é cotado para a Cultura, cargo ocupado com muita competência por Beatriz Araujo desde 2019. Ela é da cota pessoal do governador — e não tem votos.