
O recuo do presidente Donald Trump em relação ao tarifaço expõe um amadorismo político que deve servir de lição aos governantes de todos os continentes. O presidente dos Estados Unidos agiu como imperador do mundo, ignorou as regras do jogo comercial e impôs um tarifaço que desorganizou a própria economia do país mais rico do mundo.
Acuado diante da resistência da China, que respondeu com os mesmos aumentos de tarifa nas importações de produtos dos Estados Unidos, Trump cedeu aos outros países, temendo perder espaço para o seu maior inimigo.
Trump blefou, mas encontrou pela frente um líder que não se dobra, o chinês Xi Jinping, e que tem armas para enfrentar a guerra comercial. Onde vai parar esse “leilão” de tarifas com a China, não se sabe. Mas Trump saiu mais fraco do embate porque resolveu brigar com todos ao mesmo tempo e chegou até a taxar um conjunto de ilhas completamente desabitado — se desconsiderarmos os pinguins — no Oceano Índigo.
O adiamento do tarifaço por três meses — e a fixação de 10% para todos os que não promoveram retaliação — mostra que Trump não esperava que o mundo reagisse como reagiu ao seu arroubo nacionalista. Só depois de provocar um terremoto nas bolsas do mundo e de ver seus aliados brigando porque estão perdendo dinheiro é que o presidente caiu na real.
Sua fantasia de uma América imperialista, que dita as regras e o mundo é obrigado a acatá-las, ruiu diante da constatação de que não se reindustrializa um país de um dia para o outro.
É legítimo que Trump queria ver as fábricas enferrujadas de Detroit produzindo automóveis novamente, mas isso não depende apenas de vontade. Como sabem seus conselheiros, o mundo mudou. Cada pedaço é produzido em um país. No mundo todo já não se fala em fábricas de automóveis e caminhões, mas em montadoras.
Foi o alerta da combinação perversa entre inflação e recessão que fez o presidente baixar a crista. Ficou claro que os americanos não estão dispostos encarar o aumento do custo de vida decorrente de medidas adotadas sem estudos consequentes dos seus impactos. Muito menos aceitam ver prateleiras vazias.
O caso dos iPhones é icônico. Por coincidência ou não, o recuo se deu no momento em que é real o risco de faltar o produto nas lojas da Apple ou de um aumento significativo de preço. A meia volta de Trump também coincide com a gritaria do bilionário Elon Musk, que chamou de “imbecil” o suposto mentor do tarifaço, Peter Navarro. Sinal de que o dono da Tesla, que está perdendo dinheiro e prestígio na Europa, ainda faz a cabeça do presidente.