O capitão humilhou o general. Na caserna, seria inadmissível, mas na presidência da República, onde chegou pelo voto de 58 milhões de brasileiros, Jair Bolsonaro é o chefe supremo e os militares convocados para integrar o governo só têm duas opções: concordar com suas vontades ou pedir o quepe. O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, foi desautorizado pelo presidente no dia em que recebeu o diagnóstico de que está contaminado pelo coronavírus.
Pazuello está em duplo isolamento: a quarentena a que se submetem os contaminados e o limbo onde ficam os ministros em processo de fritura. O filme do qual foram protagonistas o general Santos Cruz e os ministros Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro — para citar os mais notáveis — se repete agora com um general cuja especialidade é logística, e não saúde, e que substituiu Nelson Teich, o breve. Pazuello ficou quatro meses como interino e virou titular em 16 de setembro.
Não satisfeito em desfazer o protocolo de intenções para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, alegando que não há comprovação da eficácia da vacina chinesa (que chegou a chamar de “vachina”), o presidente tratou o general como um desqualificado.
A vacina que no Brasil deverá ser fabricada em parceria com o Instituto Butantan é a que está em fase mais adiantada nos testes. Assim como as outras, só será fabricada em escala quando tiver cumprido todas as etapas, mas Bolsonaro — para agradar seu exército de fanáticos — tratou como se os brasileiros fossem servir de cobaias.
O presidente sabia da intenção do Ministério de Saúde de comprar as 46 milhões de doses, anunciada por Pazuello aos governadores na terça-feira. Tinha sido informado no final de semana e não se opôs. Foi depois de tomar conhecimento da resistência por parte de seus apoiadores e de desconfiar que o governador de São Paulo, João Doria, sairia fortalecido politicamente, que resolveu virar a mesa.
A reação faz lembrar uma frase de Mandetta sobre o antigo chefe: “Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo.”
Outros ministros que caíram, como Santos Cruz e Moro, saíram do governo com a mesma impressão de quem acompanha a carreira de Bolsonaro nos 28 anos em que foi deputado federal: trata-se de um lunático.
Aliás
Se o general Eduardo Pazuello pedir para sair, estará aberto o caminho para que Bolsonaro nomeie, enfim, o deputado Osmar Terra, para o Ministério da Saúde, baseado no critério da afinidade. Do ponto de vista do enfrentamento ao coronavírus, são almas gêmeas.
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