Se ainda não há vacina para prevenir nem remédio para combater o coronavírus que assusta o planeta, cada país terá de encontrar caminhos para atenuar os prejuízos. O vírus que o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros precisam enfrentar de imediato é o da desconfiança, o que não depende dos cientistas, mas dos operadores políticos.
O tombo nas bolsas é global, mas os efeitos no Brasil são mais alarmantes. Nestes primeiros dias de 2020, os estrangeiros já retiraram R$ 44,8 bilhões de recursos da Bolsa brasileira. É mais do que tudo o que saiu no ano inteiro de 2019. O real foi a moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar entre o final de fevereiro e o início de março, apesar de o país (felizmente) não ter registrado nenhuma morte.
Bolsonaro se equivoca quando diz que os investidores não vêm porque os jornalistas dão notícias negativas, em vez de apregoar o que considera suas façanhas. A imprensa lida com fatos. Se o governo produz marolas e se perde em irrelevâncias nas redes sociais, como convencer os investidores estrangeiros a apostar no Brasil?
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocou o dedo na ferida na sexta-feira, em evento no Instituto FHC. Disse que o governo tem afastado investidores e contribuído para cenário de crise, pela falta de compromisso com a democracia e com a defesa do meio ambiente. Maia sugeriu que o Congresso articule uma agenda de combate aos efeitos do coronavírus “com aqueles que têm uma cabeça racional no governo”.
Essa agenda passa pela aprovação das reformas, o que só ocorrerá se o presidente trocar a postura belicosa na relação com o Congresso e com o Judiciário pelo respeito às instituições. O problema é que o Planalto sequer encaminhou as reformas administrativa e tributária.