Nova moda entre influenciadoras digitais, os exercícios faciais vêm ganhando cada vez mais adeptos. A prática, que tem sido chamada de "ginástica facial", "yoga facial" e outros nomes, conta, inclusive, com aplicativos destinados a prescrever programas de treinamento aos usuários. Mas será que "malhar" o rosto traz mesmo resultados?
Conforme a fonoaudióloga Maria Inês Pamplona Dutra, que há mais de três décadas dedica-se ao estudo da musculatura orofacial, sim. A profissional explica que os exercícios faciais podem proporcionar diferentes benefícios, incluindo estéticos. A lógica, segundo ela, é a mesma da musculatura corporal.
— Embora menor que os músculos do corpo e com fibras mais sensíveis, a musculatura orofacial é passível de ser estimulada, como qualquer outra. Há exercícios específicos para cada um desses músculos, que podem ajudar tanto nas questões funcionais, como a mastigação, a deglutição e a fala, quanto no aspecto estético — explica a fonoaudióloga.
Entre os efeitos estéticos dos exercícios faciais está a remodelação dos contornos do rosto, através de tonificação e hipertrofia muscular, e o retardamento de sinais do envelhecimento.
Os treinos são similares à ginástica corporal, com séries de exercícios a serem realizados em repetições pré-determinadas. Contudo, para que os resultados sejam satisfatórios, é preciso acompanhamento profissional e constância.
— É possível alcançar maravilhas através dos exercícios faciais, mas isso depende de duas coisas: orientação profissional e constância. Para se obter resultados satisfatórios e duradouros, o programa de treinos precisa ser feito de forma frequente, assim como ocorre com os músculos do corpo. Não podemos fazer uma sequência de exercícios durante uma ou duas semanas e esperar um rosto transformado, pois não se trata de uma receita mágica — afirma a profissional.
Sem orientação, não
Maria Inês alerta que os exercícios faciais não devem ser praticados por conta própria. A fonoaudióloga explica que, antes de partir para a prática, é necessário avaliar as características dos músculos a serem trabalhados, bem como o desempenho das funções associadas a ele, e definir quais são os resultados que se almeja alcançar, para que o treino esteja adequado a esses objetivos.
— Quando uma pessoa se matricula na academia, ela não sai fazendo exercícios sem supervisão. Primeiro, ela vai passar por uma avaliação física. Isso também se aplica aos exercícios faciais — compara.
A dermatologista Márcia Donadussi, mestre pela PUCRS e integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia, enfatiza a necessidade de os treinamentos serem elaborados de forma personalizada. Ou seja, não é indicado replicar os exercícios faciais difundidos por blogueiras, por exemplo, porque o que funciona para o rosto de uma pessoa, pode não ter o mesmo resultado para outra. O mesmo cuidado vale para aplicativos que disponibilizam treinos prontos, sem levar em consideração as características de cada um.
A médica também alerta para a importância de o planejamento dos exercícios ser feito por profissional que conhece bem a musculatura orofacial.
— Na face, temos músculos que possuem ação elevadora e músculos que possuem ação depressora — explica a dermatologista. — Em linhas gerais, os músculos depressores favorecem ou acentuam os sinais do envelhecimento, enquanto os elevadores estão associados a aspectos joviais. Esse conhecimento faz toda a diferença. Se for trabalhada a musculatura errada, o resultado pode ser o contrário do que se está buscando — detalha.
Possíveis riscos à saúde
Outro ponto a ser avaliado é a existência de procedimentos estéticos anteriores, que podem vir a ser prejudicados pelos exercícios. Um exemplo é o botox, cuja substância, a toxina botulínica, promove a paralisia da musculatura.
— Ao exercitar sistematicamente a região onde o produto foi aplicado, vamos estar "trabalhando contra" o botox, forçando uma área que ele está tentando relaxar. Isso pode fazer com que o procedimento tenha uma duração menor — salienta a médica.
Para além de um desfecho final diferente do desejado, a prática de exercícios faciais sem acompanhamento pode trazer riscos sérios à saúde, conforme a fonoaudióloga Maria Inês Pamplona Dutra. Entre as possíveis complicações citadas pela profissional estão disfunção da articulação temporomandibular (ATM), alterações cervicais, paralisia facial, deslocamento mandibular, hematomas e até enxaqueca.
Contudo, a profissional ressalta que, se feitos sob a devida supervisão e de forma personalizada, os exercícios faciais podem ser grandes aliados de quem deseja driblar ou prevenir os sinais do tempo e melhorar o aspecto geral da face. Quanto antes a prática for iniciada, melhores tendem a ser os resultados a longo prazo.
— O ideal é sempre começar pela prevenção — destaca a fonoaudióloga.